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Retorno das raízes afro-brasileiras

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • há 17 horas
  • 2 min de leitura

Disciplina criada por Mercedes Baptista voltará à Escola de Dança do Theatro Municipal


Por João Otávio Alves


(Foto: Arquivo Nacional/Correio da Manhã)

Mercedes Baptista, primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Mercedes Baptista, primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Após um período fora da grade curricular, a disciplina de Dança Afro-Brasileira retornou à formação dos estudantes da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), vinculada ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Essa volta denota não somente uma adição pedagógica, mas uma forma de reparação histórica e valorização da cultura negra no ensino formal artístico no Brasil.


Criada por Mercedes Baptista nos anos 1950, a técnica de dança afro-brasileira foi desenvolvida a partir de pesquisas nos terreiros de candomblé, nos ritmos da capoeira, nos toques dos blocos afro e nos gestos das comunidades negras do país. Como a primeira bailarina negra a integrar o corpo de ballet do Theatro Municipal, Mercedes enfrentou o racismo estrutural de uma instituição que não abria espaço para pessoas não brancas nos papéis principais.


Em resposta à exclusão, ela fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista em 1959, desenvolvendo uma técnica oriunda da ancestralidade afro-brasileira, com a mescla de fundamentos do balé clássico e expressões populares e religiosas de matriz africana. Mercedes foi considerada a coreógrafa do corpo negro urbano, e sua obra permanece como um dos pilares da dança brasileira contemporânea.


Não à toa, o retorno da disciplina à EEDMO também se alinha a um movimento nacional de fortalecimento da cultura negra nas artes cênicas. Iniciativas como o Festival Corpo Negro em Salvador, o AfroReaggae no Rio, e o Cia Rubens Barbot vêm ocupando o cenário artístico com produções que reafirmam a importância da linguagem afro-brasileira como um instrumento político, estético e educativo.


Em entrevista à revista Cult, em 2017, a professora e bailarina Márcia Tiburi afirmou: “A dança afro-brasileira é mais do que uma prática artística: ela é memória viva de um povo que resiste dançando”. Na EEDMO, essa memória ganha novamente espaço para florescer e formar uma nova geração de artistas.


A dívida histórica que o Brasil carrega com a cultura negra, sobretudo por espaços que a rejeitaram durante séculos, torna urgente a promoção de oportunidades para iniciativas artísticas como a disciplina. Sua reintegração é um passo concreto para que os corpos negros sejam vistos e legitimados, movendo-se enquanto resistência à estrutura opressora. Tais articulações não se trata apenas de uma comunidade oprimida se inserindo em espaços exclusivos, mas permitem a construção de um cenário próprio para a cultura negra fortalecer-se institucionalmente. 



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