Local que conta história do ritmo carioca está a poucos quilômetros da comunidade uerjiana
O que é o samba? Se é um enredo, onde se passa? Quais são seus personagens? As respostas, ainda desconhecida por muitos que vivem no entorno, se encontram em bastante destaque no Museu do Samba. O local, que fica a aproximadamente dois quilômetros do campus Maracanã da Uerj, é pouco conhecido pela comunidade, mas com certeza vale a pena apresentar um ao outro.
Localizado no pé do Morro da Mangueira, o museu é considerado uma das maiores referências históricas não somente sobre o samba, mas também sobre a vida de pessoas pretas no Rio de Janeiro durante todo o século passado. A exposição, que inicialmente surgiu como um pequeno projeto, acabou transformando-se em um conjunto de vivências que tem muito a nos dizer. Quando estive lá, a curadora Thalita Ferreira de Souza me explicou que o museu, que é uma organização não governamental, começou como um breve acervo de bens do Cartola. “O Centro Cultural Cartola foi uma iniciativa dos netos do artista para perpetuar a sua memória”, destacou a curadora.
O cantor e compositor, o qual fez grande parte do seu nome no bairro da Mangueira, ainda vivo era tido como uma celebridade, um tesouro do bairro – ainda que tenha nascido no Catete e crescido em Laranjeiras –e a ideia desse espaço é de manter sua memória sempre próxima aos moradores da região. Com o tempo, vários sambistas, carnavalescos e compositores começaram a doar as suas próprias memórias para enriquecer a coleção. A partir desse crescimento, o objetivo do Centro Cultural Cartola foi de preservar a história do cantor para propor a narrativa do samba e do povo preto, a qual seja contada por essas mesmas pessoas. Surge, então, o Museu do Samba.
Logo de início me arrepiei. O começo da exposição é em 1902, o Rio de Janeiro ainda era a capital do país, e aqui surgia uma coisa muito improvável. O samba nasceu ali no Centro, no bairro da Cidade Nova. Dentro dos terreiros nasceu um ritmo, que também era uma reza, uma paixão, que por sua vez também era uma lamentação. A primeira parte da obra fala sobre como as primeiras reuniões se tornaram festas de samba, citando referências como a Pequena África e a influência da grande Tia Ciata no samba de terreiro.
Localizada entre a Zona Portuária e os bairros da Gamboa e do Santo Cristo, a Pequena África é uma região do Rio de Janeiro nomeada pelo compositor Heitor dos Prazeres, devido à grande quantidade de ex-escravos alforriados que ali viviam.
Em seguida, pude conhecer o processo de popularização desse gênero musical que ficou muito famoso graças à difusão do telefone e do rádio durante os anos de 1930. Foi muito bonito ver representado em fotos, partituras e peças de fantasias a construção das grandes escolas de samba que existem e resistem até o dia de hoje. Fala-se também das dificuldades dos sambistas no momento em que ainda eram tidos como “vagabundos de viola” e a maneira como precisavam estar sempre bem arrumados para não serem alvos de preconceito.
Essa visitação a nossa ancestralidade é uma coisa muito delicada e especial, e quando eu vi e percebi o protagonismo de mulheres pretas, muitas vezes apagado na trajetória do batuque e da composição, foi nesse momento que entendi o lugar em que eu estava pisando: um lugar de memória, sobretudo, um santuário.
Durante a pandemia de Covid-19, o museu, assim como a maioria dos estabelecimentos, precisou fechar as portas por medidas de segurança sanitária. De acordo com Thalita: “Foi bem difícil, a maioria dos funcionários não conseguiu continuar vindo, então trabalhamos um bom tempo com quatro funcionários, e mesmo assim atendemos a pesquisadores que precisavam visitar o museu para fazer artigos porque o museu é um centro de documentação e pesquisa do samba.”
O laço do museu com a comunidade mangueirense ainda está sendo retomado após as piores fases da pandemia. A equipe que passou por um processo de renovação, planeja se reconectar com o bairro através das escolas: “Na última semana nós fizemos uma contação de histórias para as crianças do colégio primário do Buraco Quente. E essa é a escola que temos a relação mais próxima, mas fora isso estamos sempre em contato com os alunos do Ciep 241 Nação Mangueirense, que participam do pré-vestibular Dona Zica. Esse pré-vestibular é feito pelo projeto Sambeduca aqui no museu”, finaliza Thalita, que trabalha no local há mais de um ano.
O Museu do Samba fica na Rua Visconde de Niterói 1.296 - Mangueira. Está aberto ao público de segunda a sexta, de 10h às 17h e nos fins de semana a visitação é possível apenas mediante agendamento pelo site: riotur.rio/que_fazer/museus-do-samba/
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