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Educação das ruas: da arte ao pré-vestibular

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • 13 de jun.
  • 3 min de leitura

Jovem periférico cria projeto social que transcende linhas do ensino tradicional da sua área 


Por João Otávio


(Reprodução / Elem)

Em roda de diálogo do Elem, Henrique dos Santos (camisa preta) recebe VND (primeiro à esq na frente), Lifee (ao lado), taldiBruna (à esq ao lado de Henrique), SD9 (agachado ao centro) e SOS (à direita, na frente), artistas do cenário musical underground do Rio de Janeiro
Em roda de diálogo do Elem, Henrique dos Santos (camisa preta) recebe VND (primeiro à esq na frente), Lifee (ao lado), taldiBruna (à esq ao lado de Henrique), SD9 (agachado ao centro) e SOS (à direita, na frente), artistas do cenário musical underground do Rio de Janeiro

O Educação Libertadora Eduardo Marinho (Elem) é um projeto social e pré-vestibular popular atuante no Ciep 323 Mª Werneck de Castro, em Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele atende a cerca de 20 alunos do ensino médio da unidade, entre 15 e 17 anos, oriundos das favelas das proximidades. Henderson Henrique dos Santos, ex-aluno da escola, é idealizador, coordenador e professor de história e sociologia do projeto, e graduando em história pela Unirio. Ele foi motivado pelas ideias críticas de Eduardo Marinho, artista plástico e filósofo de rua que dá nome à iniciativa, para criar um espaço de educação popular, conscientização social e formação da juventude periférica. 


Cria de Vigário Geral, também na Zona Norte, Henrique foi movido pelos afetos de suas vivências a articular caminhos melhores para a juventude da sua área. Vendo desde sua infância um cenário de negligência estatal abarcar jovens periféricos como ele — pela carência educacional, alimentar, cultural e sanitária —, a educação e a arte o formaram ativista, de modo que decidiu agir em prol de seus iguais. Assim, com apenas 21 anos, ele criou o Elem para impulsionar jovens de comunidades periféricas a seguirem rumos diferentes dos pré-definidos pelo sistema, partindo do ensino e da cultura. “O projeto surgiu do meu ódio de sempre estar em um lugar de vulnerabilidade. Quero ver as crianças da minha favela daqui a 5 anos em um ambiente acadêmico, em um emprego que pague bem, não em um local de precarização.”


O projeto teve início em março, realizando aulas às terças e às quintas, após o término da grade escolar. Hoje conta com cerca de 40 colaboradores voluntários, divididos nas áreas de educação (com professores, monitores e psicólogos) e de comunicação (com ilustradores, designers e fotógrafos). Henrique montou a equipe sozinho, contatando perfis que tivessem relação com a ideia e divulgando a convocatória pelo Instagram. “Eu criei uns slides e pus em um formulário, divulguei em meios de comunicação da faculdade, em mensagens no Instagram. Recebi muitos nãos e muitos sins até formalizar uma equipe. Muitos se candidataram após o projeto iniciar.”


O Elem tem como objetivo preparar seus alunos, não apenas para prestar o vestibular, mas para entender e superar a estrutura da sociedade que busca limitá-los. As aulas seguem um cronograma que inclui matérias programáticas para o preparo das provas, priorizando a educação antirracista e socialmente consciente, e atividades interdisciplinares de incentivo cultural. No fim do mês, por exemplo, ocorre o “Linha di Frente”, evento que promove rodas de diálogos com convidados, para a discussão com os alunos sobre temas que despertem seu senso crítico.


Na primeira edição do evento, o tema abordado foi “A importância do rap para o jovem da favela”, para o qual convidados foram os artistas do cenário underground de rap e grime VND, SD9, Lifee e SOS, tendo a participação especial de taldiBruna — também ex-aluna do Ciep 323. A ideia do tema surgiu de um dos princípios do projeto: a identificação. Quando os jovens têm contato com referências próximas, que partilham da mesma realidade ou cultura, voltam sua atenção mais facilmente e ficam à vontade para discutir os temas. Nesse sentido, o rap torna-se uma das linguagens mais próximas de adolescentes em contexto periférico, por tratar de sua realidade com irreverência nos versos. O mesmo acontece com a própria equipe do projeto, que compõe educadores muito mais próximos de seus alunos, tanto pela origem quanto pela filosofia que pregam em sala. 


 A relação do rap com o Elem vai mais além, uma vez que o gênero musical é marcado por jovens de favela que se formam a partir da arte e saem da precarização de seu ambiente, retornando mais tarde com recursos que saciam as carências da localidade. Curiosamente, as movimentações de Henrique foram as mesmas, devolvendo à sua área tudo aquilo que conquistou na formação, pautada pela união entre arte e educação. “Hoje eu não tenho noção do tamanho disso tudo, mas sei da importância que tem.”


O Elem pode ser acompanhado por sua página no Instagram: @elem_educacao_, onde atualiza seus eventos e projetos voltado aos estudantes do Ciep 323.


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