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‘É TIPO UM DOPING’

Para especialistas, avanço da inteligência artificial no esporte pode gerar desigualdades na preparação de atletas e comprometer o espírito de ‘fair play’ 


Por Nuno Melo         Redatora: Camille Mello


Foto: Instagram/ Reprodução (@aiscoutofficial)

 IA e futebol: de treinamentos específicos à previsão de lesões de jogadores.

 

Uma das evidências utilizadas por John Textor, dono da SAF do Botafogo, para afirmar a existência de manipulação de resultados no futebol brasileiro é calcada no emprego da inteligência artificial (IA) no esporte. O relatório apresentado pelo empresário norte-americano ganhou contornos específicos ao revelar a influência dessas novas tecnologias no futebol, especialmente no que se refere aos erros dos árbitros. Assim como em outras áreas, os dados gerados por diferentes programas de IA vêm tomando parte do cotidiano esportivo, principalmente quando esse banco de dados intervém na performance e no desempenho dos atletas. 


Gradualmente, a inteligência artificial tem mudado a maneira como se joga futebol. Times da primeira divisão do campeonato brasileiro, como Palmeiras e Flamengo, por exemplo, foram os primeiros a implementar dispositivos que regulam a evolução física e outras variações fisiológicas apresentadas por um jogador durante a partida. Tornou-se comum ver atletas utilizando acessórios que foram apelidados nas redes sociais de tops ou sutiãs, pela semelhança com a peça de vestuário. Acoplados ao corpo, esses dispositivos contém uma tecnologia que monitora o desempenho dos atletas em diferentes dimensões, como a frequência cardíaca, as distâncias percorridas, a velocidade percorrida e até mesmo o potencial de arranque em campo. Hoje, porém, com o refinamento da IA, já é possível integrar os dados coletados e desenvolver treinos específicos, aprimorar o scouting de jovens promessas e, até mesmo, prever lesões de jogadores.


É o que diz Ezequiel Bertti, vice-diretor da Faculdade de Tecnologia (FAT) da Uerj. Como coordenador do Laboratório Interdisciplinar Virtual de Inteligência Artificial (Livia), ele está envolvido nos aspectos científicos desses avanços no esporte, e diz que estamos presenciando o início de uma verdadeira revolução. “Tudo é rastreado com muita precisão: na Alemanha, existem times que contratam jovens jogadores a partir de pontuações geradas automaticamente por IA”, relata Bertti, que aponta, ainda, alguns dilemas para a dinâmica competitiva. “É claro que times com menores investimentos poderão ficar ainda mais para trás, é tipo um doping”, conclui.


Foto: Pexels/ Reprodução

IA no basquete: “quase um doping”


Se, por um lado, o aprimoramento de ferramentas tecnológicas pode trazer novas perspectivas no esporte, ele também pode alargar desigualdades. Igor Tavares, professor do Instituto de Educação Física e Desportos (IEFD) da Uerj, aprofunda essa dimensão mais crítica acerca do avanço da inteligência artificial no gerenciamento e preparação de atletas. Para ele, o que estamos vendo recentemente no futebol já foi percebido no basquete, no qual a relação com números e tecnologias é mais antiga. “O Los Angeles Lakers, da NBA, tem uma equipe de engenheiros de dados, que investiga, por exemplo, em quais situações na partida o risco de lesão particularmente aumenta. É quase injusto em termos de competitividade”, alega o professor. 


Ao longo da temporada regular deste ano da NBA, o time de Los Angeles, que é a terceira franquia mais valiosa da liga, teve somente duas baixas. Já o Memphis Grizzlies, que ocupa o último lugar do ranking de valores, teve 12 jogadores temporariamente incapacitados por lesões. 


Tavares sugere que, nesse momento, devemos tentar equilibrar o acesso a esses recursos, para o bem do esporte. “É algo a ser discutido em escala mundial, não podemos deixar que a tecnologia seja o determinante e o talento humano, por exemplo, fique em segundo plano.” Impasses desse tipo, que ora surpreendem pelas inovações e ora intimidam a dinâmica do esporte, ditarão o ritmo do mercado nos próximos anos, orientando-o pela evolução contínua do algoritmo artificial.

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