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Por Gabriel Amaro
Há um grande abismo entre a individualidade e a coletividade que nos desafia diariamente. É como se estivéssemos nos equilibrando numa corda bamba, tentando encontrar o ponto de harmonia entre essas duas forças antagônicas. Presos em uma dança frenética em que precisamos seguir o ritmo do mundo ao nosso redor, enquanto ainda buscamos expressar nossa própria essência. Porque, vamos admitir, somos seres únicos e queremos ser reconhecidos por isso, mas, ao mesmo tempo, fazemos parte de uma sociedade complexa que clama por união e empatia – sempre divididos entre sermos protagonistas de nossas próprias vidas e nos conectarmos com um propósito maior.
Imagine só: você está no metrô, no horário de pico, com dezenas de pessoas ao seu redor. Cada uma imersa em seu próprio universo particular, com fones de ouvido piorando o isolamento e olhos fixos nas telas dos celulares. Cada indivíduo entregue ao seu mundinho, como se fosse outra ilha flutuante em um oceano de rostos desconhecidos. A individualidade está ali, estampada em cada semblante – esse sentimento de ser único e especial está enraizado em cada um de nós. Queremos nos destacar, deixar nossas marcas no mundo, ser reconhecidos pelos nossos talentos e pelas nossas conquistas. Não podemos ignorar a importância da individualidade. Cada ser humano é único, com suas peculiaridades, sonhos e perspectivas. Celebrar nossa singularidade é um exercício vital para a autoestima e o crescimento pessoal. Mas, e se nos deixarmos levar pelo egoísmo excessivo? E se permitirmos que nossa individualidade se torne uma muralha que nos separa do mundo ao nosso redor?
É quando os conflitos começam a surgir. Aquela pessoa que insiste em ocupar dois assentos no ônibus lotado, como se seu conforto fosse mais importante do que o bem-estar coletivo. Ou aquele motorista apressado que se espreme no trânsito – buzina sem parar e não cede a vez para os pedestres –, esquecendo-se de que a coletividade é composta por indivíduos, e cada um merece respeito e segurança no trânsito. Somos animais sociais, dependemos uns dos outros para sobrevivermos e prosperarmos. É como um grande quebra-cabeça, onde cada peça tem seu papel e, juntas, formam uma imagem coesa. De que adianta ser o rei da cocada preta se não houver mais ninguém para compartilhar a doçura?
Um exemplo disso são as disputas por assentos no transporte público. Quantas vezes já presenciamos verdadeiras batalhas campais por um lugarzinho para nos sentarmos? Parece que o senso de coletividade some e surge um exército de egos inflados, prontos para esmagar qualquer um que esteja em seu caminho. E, infelizmente, é uma cena cotidiana, repetida em diferentes lugares, como se fosse uma coreografia ensaiada. Porém, não é apenas nas pequenas situações do cotidiano que isso se manifesta. Basta olharmos para os grandes problemas sociais que enfrentamos atualmente: a desigualdade e a falta de empatia. Tudo isso é resultado de um egoísmo coletivo, de uma sociedade que prioriza o "eu" em detrimento do "nós".
Mas não estou aqui para desanimar ninguém. Somos seres humanos e, assim sendo, somos capazes de aprendermos, crescermos e nos transformarmos. Podemos conciliar nossa individualidade com a coletividade, criando uma sociedade mais justa e empática. E como fazer isso no dia a dia? Começando com pequenos gestos. Um sorriso sincero para um estranho na rua, uma gentileza para um colega de trabalho, ou então ouvir com atenção quando alguém está compartilhando suas preocupações. São nas pequenas atitudes que construímos uma cultura de colaboração e respeito mútuo. Quando nos unimos por uma causa nobre, quando buscamos justiça e igualdade, algo mágico acontece: descobrimos que a soma das partes é maior que o todo, que a força coletiva pode mover montanhas e transformar realidades. Vejamos os movimentos sociais ao longo da história: mulheres lutando por seus direitos, minorias se unindo para combater a discriminação, pessoas abraçando causas ambientais. Esses são exemplos de como a coletividade pode moldar o mundo em que vivemos.
A verdade é que a individualidade e a coletividade não são opostos irreconciliáveis, mas sim peças complementares da vida. Precisamos abraçar nossa singularidade, valorizar nossos desejos e sonhos pessoais, mas sem esquecermos uns dos outros. Viver em uma sociedade mais justa e empática requer equilíbrio; significa que nossas escolhas individuais devem levar em consideração o bem-estar coletivo. Devemos olhar além de nossas bolhas pessoais, abrir nossos corações e mentes para as necessidades dos outros. Não somos apenas "eu" ou "nós", somos uma imensa teia de histórias entrelaçadas, um emaranhado de vidas que se completam. Uma existência coletiva que talvez seja um dos verdadeiros sentidos de nossa existência.
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