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Uerj cria Comissão da Verdade e Memória

Atualizado: 12 de abr.

Membros irão apurar e documentar acontecimentos ocorridos na Universidade durante a ditadura militar.


Por Bernardo Cunha             Redatora: Manoela Oliveira


“Um tributo que a gente deve aos nossos estudantes daquele momento, aos nossos professores e aos nossos técnicos.”Afirma, a professora Dirce Solis, presidente da recém-criada Comissão da Verdade e Memória Luiz Paulo da Cruz Nunes,  a primeira a ser formada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Instituída no dia 2 de fevereiro de 2024, a partir de aprovação no Conselho Universitário, a comissão irá esclarecer os fatos ocorridos na Universidade no período da ditadura militar, entre 1964 e 1988. A iniciativa para a sua criação foi proposta a partir da revogação sugerida do título de Doutor Honoris Causa do ex-presidente Emílio Médici.


Foto: George Magaraia


Conselho Universitário no dia da aprovação da Comissão da Verdade


A comissão foi formada para efetivar o direito à memória e à verdade histórica, além de apurar as violações aos direitos humanos nas dependências da Uerj durante a ditadura militar. Os objetivos da instituição incluem elaborar relatórios que contenham os resultados de seu trabalho de investigação, dando ampla divulgação a esse texto, e promover acolhimento às vítimas e suas famílias, quando necessário.


A atuação da comissão incluirá pesquisas de arquivos relevantes sobre o período, documentação de depoimentos de pessoas que vivenciaram a época, investigação de professores que participaram de alguma forma da resistência à ditadura, assim como levantamento de professores e estudantes da instituição que foram afastados e exilados. Solis afirma que essa documentação será feita através dos meios que forem necessários e possíveis, como pela criação de uma videoteca e a realização de lives e podcasts.


“É Muito importante que uma comissão que vai trabalhar como Comissão de Verdade e Memória tem que ter duas coisas. Primeiro, a verdade: apuração dos fatos tal como ocorreram nesse período de 64 a 88. A outra questão é a memória. É muito importante a memória, porque resguarda uma certa participação nossa, resguarda o que a Uerj era naquele momento e o que vem a ser depois disso, mas entendendo que a memória é fundamental para que não haja repetição dos mesmos erros.”, diz a presidente da Comissão.


A Uerj não é a única a se movimentar para averiguar fatos históricos ocorridos durante o período do regime militar. Instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estabeleceram suas próprias comissões da verdade.


Escolha dos membros foi baseada em quem tem como contribuir com os objetivos da comissão


A comissão é composta por uma presidente e mais 12 membros, sendo quatro docentes, um de cada Centro Setorial, quatro técnicos-administrativos e quatro estudantes. Segundo a presidente da comissão, a escolha para compor o corpo de membros se preocupou em ser o mais democrática possível, buscando nos cursos, aqueles que teriam contribuições a oferecer dentro dos objetivos estipulados. Houve uma pesquisa de quais professores teriam trabalhos sobre o tema, quais já teriam participado de entidades que discutem o assunto e quais teriam vivenciado ou presenciado episódios de repressão na Universidade durante o período. Além disso, está previsto que se observe a diversidade de gênero e raça entre os membros.


A entidade irá trabalhar em conjunto com grupos de trabalho que irão amplificar o serviço de pesquisa e investigação realizado. Esses grupos serão compostos por estudantes, professores e técnicos que tenham interesse em contribuir com a comissão e que tenham contribuições relevantes a oferecer, seja por documentação, pesquisa ou vivência própria. Eles irão atuar a partir de questões pautadas pela própria comissão que podem incluir variados assuntos, como desaparecidos do período, exilados, etc.


Revogação de título de Emílio Médici foi ponto de partida para criação da Comissão


Na reunião do Conselho Universitário da Uerj, no dia 02 de fevereiro de 2024, foi sugerida a revogação do título Doutor Honoris Causa do ex-presidente do Brasil, Emílio Garrastazu Médici. A partir dessa pauta, levantou-se a necessidade, primeiramente, da criação de uma Comissão da Verdade e Memória para que nomes como o de Médici pudessem ser devidamente julgados e então levados ao Conselho Universitário para votarem uma possível revogação. Médici foi um dos presidentes do Brasil durante a ditadura militar, tendo governado o país entre 1969 e 1974, um dos períodos considerados dos mais repressivos do regime. Ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa em 21 de janeiro de 1974 pela, até então Universidade da Guanabara , atual Uerj, na gestão do reitor Oscar Accioly Tenório. 


Esse é o título mais importante concedido pela Universidade. É concedido por aprovação do Conselho Universitário a personalidades que tenham se destacado por sua contribuição à cultura, à educação ou à Humanidade.


Nome da comissão homenageia aluno assassinado na ditadura


Luiz Paulo da Cruz Nunes tinha 21 anos quando cursava o segundo ano de medicina, na antiga Universidade da Guanabara. No dia 22 de outubro de 1968, ele participou de uma manifestação pacífica em resposta à repressão e à prisão de estudantes pelo regime militar no XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes. Durante o protesto, agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), apareceram atirando nos alunos. Luiz Paulo foi atingido com um tiro na cabeça e não resistiu aos ferimentos. Em 1972, a turma de medicina de 67, que Luiz fazia parte, planejou uma homenagem na cerimônia de formatura. Entretanto, o evento foi interrompido a mando de agentes do regime para impedir a leitura do texto que fazia referência ao estudante assassinado. Somente 36 anos depois, em 2008, foi realizada a homenagem durante a formatura da turma de medicina da Uerj. 


“Com isso, a gente homenageia não apenas nosso estudante, mas todos os estudantes que sofreram na repressão política, que foram exilados, foram assassinados, mortos, torturados, no Brasil inteiro.”, declara Dirce Solis sobre a escolha do nome para a Comissão da Verdade e Memória da Uerj. 


Foto: Bernardo Cunha

Professor Dirce Solis presidente da Comissão da Verdade e Memória na Uerj

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