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Tecnologia: até que ponto podemos falar em avanço?


Foto: MULTIPLE// em Behance


Por Yasmim Cavalcanti


Seja na fila do caixa para pagar uma roupa em determinada loja, seja nos aplicativos dos celulares que usamos para resolver uma questão trivial do dia a dia, como realizar a transferência de dinheiro num toque: não temos como escapar da tecnologia que cada vez nos atravessa em diferentes níveis e o virtual nunca esteve tão real.



Apesar da facilidade e, muitas vezes, a economia de tempo, não podemos esquecer que vivemos num país no qual ainda é desigual o acesso à Internet, com 15,3% de excluídos digitais, cerca de 28,2 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); há o aumento da população idosa, de 22,3 milhões para 32,2 milhões entre 2012 e 2021; e apesar de uma queda no analfabetismo de uma taxa de 6,1% em 2019 para 5,5% em 2022, ainda temos 9,6 milhões de pessoas sem saber ler e escrever, também dados do IBGE, sendo acentuados por questões raciais e baixa renda dessa população. E ao analisar junto com o fator idade, 54,1%, cerca de 5,2 milhões, tinham 60 anos ou mais que eram analfabetos.



Semana retrasada mesmo, minha tia com 68 anos, estava com dificuldade de fazer uma função que pode ser simples para a gente: desbloquear seu novo cartão de crédito com o aplicativo do banco. Além da falta de habilidade com o manuseio do seu celular, também foi dificultada pelo seu problema oftalmológico num design que não foi destinado a um público dessa faixa etária e pelo seu baixo nível de escolaridade.



Ela pôde contar comigo para baixar o aplicativo, inserir sua senha e tirar a foto de confirmação que pedia junto à senha. Mas será que sempre é confiável pedir ajuda a outra pessoa, como um vizinho ou um conhecido? Percebemos que esse é um grupo mais suscetível a golpes, que ficam cada vez mais sofisticado com o avanço tecnológico, precisando de mais atenção e imersão nessa nova era de dados.



Com isso tudo, vem um fator importante: a automatização das funções e o desemprego estrutural. Comecei falando da fila da loja não foi à toa. Enquanto aguardava minha vez no caixa, uma funcionária chamava outros clientes para se aventurarem na função de autoatendimento, local no qual você mesmo registra as roupas, tira o alarme de segurança e paga. Será que a funcionária não percebe que está alimentando a sua saída e de outros colegas do emprego até então humano?



Falando em banco, a mesma problemática. Um aplicativo com determinada inteligência artificial (IA) pode substituir um funcionário. Já que para tudo temos uma IA, para quê sair de casa para ir à agência, não é mesmo? Até as moedas vão passar a serem digitais. Mas o que quero levantar aqui é: o que acontece com essas pessoas que são substituídas? Sem estudos específicos, a tecnologia domina os mercados de trabalho. O nível da nossa educação pode ser abrangente, porém é desigual. A evasão escolar se dá também por jovens que necessitam trabalhar cada vez mais cedo e ajudar no sustento da casa. Isso acaba virando um paradoxo. Se não dominarmos a fase digital, ela nos domina. Mas nem todos tem os antídotos para não se deixar levar.



Além do desemprego, ainda temos nosso lado humano negligenciado. Todos nós tão inseridos nos aparelhos eletrônicos que não vemos quem está do nosso lado e que só precisa de um simples bom dia; não vemos o mundo ao nosso redor, da beleza do pôr do sol quando estamos no ônibus cheio, escutar ativamente o outro ou também até do caos que podemos evitar se formos unidos.



Por isso, como falar de avanço se não avançamos num todo e, sim, cada um por si? Temos que ter a tecnologia como nossa aliada para o bem, pensando no geral, não apenas no individualismo e na exclusão. Não podemos falar de avanço sem o lado humano, se não serão apenas números e máquinas e nós mais um mero instrumento dessa engrenagem.





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