Super Mundial: novo torneio da FIFA enfrenta polêmicas e questionamentos
- Comunica Uerj
- 29 de mai.
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Presença do León e do Pachuca, clubes de mesmo dono, contraria regulamento e aumenta questionamentos sobre novo Mundial
Por João Pedro Serafim Alves
Crédito: Freepik

O Mundial de Clubes de 2025 é um marco da tentativa da Fifa de globalizar o futebol de clubes. A entidade sempre buscou criar um torneio que reunisse clubes de diferentes continentes como a Copa do Mundo, porém esbarrava em calendários apertados e questões financeiras. Agora, a competição finalmente saiu do papel, mas está envolta em polêmicas que ameaçam a credibilidade do campeonato.
Financiamento e a polêmica com a DAZN e a Arábia Saudita
A Fifa enfrentou dificuldades para viabilizar o Mundial de 2025 devido à resistência de clubes europeus, com calendários lotados e competições lucrativas como a Uefa Champions League e questões financeiras. A solução veio com um acordo de transmissão global com a DAZN, empresa de streaming especializada em transmissões esportivas que adquiriu os direitos por cerca de € 1 bilhão, garantindo a reprodução gratuita dos 63 jogos.
Entretanto, o contrato gerou controvérsias devido à relação entre a empresa e a Arábia Saudita. Em fevereiro de 2025, após diversas especulações, foi confirmado que o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita comprou 10% das ações da DAZN por US$ 1 bilhão. Essa transação levantou suspeitas de sportwashing, já que a Arábia Saudita, confirmada como sede única da Copa do Mundo de 2034, tem investido pesado em eventos esportivos para melhorar sua imagem internacional. O jornal britânico The Guardian publicou uma matéria sobre o caso: “Em teoria, pode ocorrer que o dinheiro dado pela Arábia Saudita à DAZN, pela DAZN à Fifa, e pela Fifa aos clubes, acabe retornando ao bolso de uma entidade parcialmente controlada, indiretamente, pelo seu doador inicial”, escreveu o jornalista Barney Ronay. Essa coincidência, junto à escolha da Arábia Saudita como sede da Copa do Mundo de 2034, gerou debates na imprensa sobre possíveis intenções de sportwashing, embora a Dazn e o PIF afirmem que a parceria é apenas comercial, sem evidências públicas de motivos políticos.
Controvérsia de Multipropriedade: León e Pachuca
Outra polêmica que ganhou destaque foi a exclusão do Club León por violar a regra da Fifa sobre multipropriedade. O artigo 10 do regulamento proíbe clubes de mesmo proprietário participarem de competições internacionais para evitar conflitos de interesses. León e Pachuca, ambos do grupo Pachuca, qualificaram-se pela Concacaf Champions Cup de 2023 e 2024, respectivamente, e foram incluídos no sorteio dos grupos, contrariando o regulamento.
Após o erro, o Alajuelense, da Costa Rica, acionou a Fifa e, posteriormente, o Tribunal Arbitral do Esporte, argumentando que a participação dos dois clubes era irregular e reivindicando a vaga do León, pois pela regra de limitação de times do mesmo país, ele é o herdeiro da vaga.
A Fifa removeu o León, mas não concedeu a vaga ao Alajuelense, optando por um playoff entre Los Angeles FC (vice-campeão da Concacaf Champions Cup 2023) e América do México (o mais bem ranqueado da Concacaf não classificado do México), evidenciando falhas na aplicação das regras e privilégio da Fifa a clubes que possuem maior apelo midiático.
Influência política
A escolha de LAFC e América-MEX para o playoff não foi isenta de críticas, com alegações de influência política e interesses comerciais. O Los Angeles FC pertence a um dos fundadores da Riot Games, Brandon Beck, empresa responsável pela criação do League Of Legends, o maior e-sport da atualidade. Somado a isso, o clube possui como investidores celebridades como Will Ferrell e Magic Johnson. Assim, nota-se que o clube possui um forte apelo global, o que influenciou a decisão da Fifa, interessada em promover o torneio nos EUA, um mercado estratégico para o futebol e uma das sedes da próxima Copa do Mundo.
Já o Club América, do conglomerado Televisa, é comercialmente atraente por sua grande torcida no México. Porém, de acordo com denúncias da mídia mexicana, principalmente pelo veterano da crônica esportiva José Ramón Fernández, a escolha do clube foi motivada por interesses políticos, uma "vingança" de Emilio Azcárraga Jean, principal acionista da Televisa contra Jesús Martínez, presidente do grupo Pachuca, por ter votado contra um fundo de investimentos promovido por Azcárraga. Com isso, a Televisa que pressionou a Fifa para excluir o León e incluir o América no Mundial
A relação entre Fifa e América possui um histórico de polêmicas. Entre 2015 e 2017, a Fifa esteve envolvida em escândalos de corrupção, incluindo acusações contra Emilio Azcárraga Jean, então presidente da Televisa, por subornos via Mountrigi, uma empresa subsidiária do conglomerado na Suíça, para garantir direitos de transmissão de Copas do Mundo. Por causa da pressão, Azcárraga renunciou ao cargo de presidente executivo em 2017. Entretanto, com o tempo, o escândalo foi abafado e em 2023, a Televisa pagou US$ 95 milhões a investidores que dizem ter perdido dinheiro, porque a empresa inflou o preço de suas ações ao ocultar o suborno.
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