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Estádios vazios e ingressos encalhados marcam início do novo Mundial de Clubes da Fifa

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • 25 de jun.
  • 3 min de leitura

Presença de agentes da ICE e adoção dos preços dinâmicos afastaram torcedores da semana de estreia da competição

Por João Pedro Serafim Alves



Foto: Justin Ruderman

Protesto de torcedores do LAFC pedindo o fim do ICE
Protesto de torcedores do LAFC pedindo o fim do ICE

Estádios vazios, ingressos encalhados e críticas à escolha dos Estados Unidos como sede marcaram a semana de estreia do Super Mundial de Clubes da Fifa. Apesar de haver uma melhora substancial de público a partir da segunda rodada, o país – alvo de polêmicas devido à política anti-imigratória e à ausência de uma cultura futebolística enraizada – enfrentou reflexos diretos no campo. Um exemplo foi o jogo entre Palmeiras e Porto, gigantes do Brasil e de Portugal, que atraiu 46.275 torcedores ao MetLife Stadium, em Nova Jersey, com capacidade para 82.500 pessoas – pouco mais da metade do público esperado. O que explica esse fracasso? Dois motivos se destacam: o contexto sociopolítico dos EUA e a adoção de preços dinâmicos para ingressos.


No dia 10 de junho, autoridades de Miami, sede da abertura do Mundial de Clubes, anunciaram que agentes da ICE, agência que controla a imigração nos Estados Unidos, fariam a segurança da abertura da competição. A decisão gerou controvérsia: por que uma agência de controle migratório atuaria em um jogo de futebol? A resposta, para muitos, é clara: intensificar a deportação de imigrantes. Desde que Donald Trump reassumiu a presidência em janeiro de 2025, operações de deportação ganharam caráter midiático. A situação escalou no início de junho em Los Angeles, onde, segundo o Censo dos EUA de 2023, 40,3% de sua população é latina. No dia 7 de junho, Trump enviou a Guarda Nacional para reprimir protestos na cidade, sem consultar o governador Gavin Newsom, que classificou a medida como “ilegal e inconstitucional”. Cerca de 100 imigrantes foram detidos em Los Angeles desde o início dessas operações.


O clima de tensão reflete-se no futebol. Em Nashville, Tennessee, onde 14% da população é latina, a torcida organizada do Nashville, La Brigada de Oro, composta em sua maioria por latinos, realizou um protesto silencioso no jogo contra o Charlotte pela Major League Soccer (MLS), em solidariedade a integrantes presos em operações do ICE. Em maio, a polícia de imigração realizou 468 abordagens no trânsito da cidade, resultando na detenção de 94 latinos considerados “criminosos” ou “ilegais”. “Não parece prudente comemorar enquanto tantas famílias são destruídas”, declarou a organizada em comunicado oficial.


Latinos são a base mais fiel das torcidas nos estádios americanos, impulsionados por laços culturais com países onde o futebol é paixão, como México, Colômbia e Argentina. Em 2024, a MLS registrou um recorde de 12,1 milhões de espectadores, com média de 23.240 torcedores por jogo na temporada regular, impulsionada por cidades com alta população latina, como Los Angeles e Miami. Clubes como Inter Miami, LA Galaxy e LAFC atraíram multidões, com jogos como Inter Miami x Sporting Kansas City e LAFC x LA Galaxy atraindo 72.610 e 70.000 torcedores, respectivamente. A chegada de Lionel Messi ao Inter Miami elevou ainda mais o interesse, com a partida contra o Atlanta United se tornando o evento esportivo mais assistido na história da Apple TV. Com 19% da população americana sendo latina, esse grupo é a base de fãs da MLS e do futebol nos EUA, mas o medo de deportações tem afastado esses torcedores dos estádios.


Outro obstáculo é a política de preços dinâmicos adotada pela Fifa, que ajusta os valores dos ingressos conforme a demanda. Essa prática exploratória, cada vez mais comum em eventos nos EUA e em países como o Brasil, encarece as entradas, afastando o público fiel. Jogos envolvendo clubes europeus ou confrontos com times sul-americanos têm preços mais altos, enquanto partidas do Palmeiras contra Porto e Al-Ahly, em Nova Jersey, custam a partir de US$ 45 (R$ 255) e US$ 48 (R$ 272), respectivamente. Embora esses valores sejam mais acessíveis, a estratégia ainda desanima torcedores que não esperavam custos tão elevados.


Em um mercado no qual a paixão latina pelo futebol é um fator essencial, a combinação de repressão migratória e ingressos caros cria um cenário desfavorável. O Super Mundial de Clubes, que deveria ser um novo passo rumo a celebração do futebol de clubes, enfrenta o desafio de reconquistar o público em um país mergulhado em polêmicas.



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