Uma história de vida difícil que pode ser contada pelo dia a dia do elevador do Haroldinho da UERJ
Por: Davi e Luciano
O já falecido Gilso Cardozo dos Santos foi um funcionário icônico do Haroldinho (Instituto de Química da Uerj) que alegrava alunos e professores do pavilhão. Ele dedicou décadas de afinco à universidade, trabalhando nela dos anos 80 até 2020, ano de seu falecimento.
“Sr. Gilso”, como era conhecido, ficou eternizado na mente de muitos veteranos do prédio de química pelo seu jeito espontâneo e cômico, mas também muito cuidadoso de lidar com os outros, além do compromisso com o trabalho, conforme contam os relatos daqueles que conviveram com ele.
Fonte: TV Uerj
Histórias na UERJ
“Só a minha mãe me amou”. Foi assim que Gilso certa vez falou a Hugo Ricardo, atualmente biólogo no IBRAG, em um dia de irritação. De acordo com o entrevistado, sua gagueira e sua feição ranzinza eram aspectos chaves de seu semblante, que muitas vezes transpunha sem muitos filtros o que sentia àqueles que encontrava no elevador. Era comum ouvir como resposta a um gracioso “bom dia” dito a ele, um: “bom só se for para você”.
Por conta de sua aparência irritadiça e de sua robusta costeleta, era apelidado por alguns alunos de “Vovô Wolverine”. Apelido o qual, por sinal, ele nem compreendia, o que acabava por render uma raivosa cara de dúvida.
Porém, não eram só de respostas inusitadas e de caras mal-encaradas que Sr. Gilso era conhecido. Sua afeição por presentes era uma característica icônica, bem como relata Hugo: “uma vez entrei [no elevador] com uma blusa que ele gostou, aí ele me perguntou ‘você não tem uma blusa dessa para me dar, não"'. Caridosamente, Hugo deu-lhe uma blusa semelhante no dia seguinte, somente para então descobrir que o ascensorista queria a exata roupa usada por ele no dia anterior.
No entanto, Sr. Gilso também era afetuoso e não se esquecia de presentear uerjianos. Conforme relatado por Norma Albarello, diretora do instituto de biologia, ele gostava de dar prendas a pessoas queridas em época de Natal: “todo final de ano tinham os calendários... normalmente com dizeres bíblicos”.
Relação com a faculdade
Apesar das histórias cômicas envolvendo seu temperamento, Gilso foi um sujeito com grande paixão à faculdade e àqueles que a frequentavam.
Aline Saavedra, estudante que o acompanhou da graduação ao doutorado, conta sobre o carinho que o profissional tinha por ela e pela universidade.
“Quando eu ia embora por estar passando mal, no dia seguinte Gilso vinha com chás”. Descrito como reservado, bastava um pouco de convivência para que ele demonstrasse sua preocupação profunda com os alunos. De acordo com Alice, a Uerj era sua paixão, juntamente ao Botafogo, seu time do peito: “tinha um coração uerjiano, cuidava daquele lugar como se fosse sua casa”.
Legado
Sr. Gilso também lutou pela preservação do patrimônio da UERJ e pela sofisticação dos equipamentos, sobretudo dos elevadores, lugar de incontáveis memórias.
Para além de seu empenho profissional, o ascensorista também consolidou memórias afetivas na lembrança de incontáveis funcionários e alunos que conviveram com ele, assim como o exposto pela diretora, Norma Albarello:
“Penso que a contribuição dele é nos mostrar que precisamos estar atentos aos que estão junto de nós, que cada pessoa tem um papel importante no nosso dia a dia e
que merece nosso bom dia, o nosso interesse e o nosso olhar de atenção, pois nada passa em vão”.
Apesar de ser um personagem icônico na comunidade da UERJ, o Sr. Gilson, carinhosamente conhecido como "Vovô Wolverine", preferia manter-se discreto, evitando tirar fotos que revelassem seu rosto. Sua decisão resultou em poucas imagens suas, deixando um legado marcado pela aura de mistério que o envolvia.
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