Setembro não é só amarelo, é também azul: uma luta pela visibilidade da comunidade surda
- Comunica Uerj
- 23 de set.
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‘Setembro Azul não é apenas um mês de celebração, mas também de reflexão e luta por direitos. É uma forma de dizer: nós estamos aqui, temos voz, temos língua e queremos ser respeitados como cidadãos plenos.’
Por: Isabella Topfer
Reprodução: Portal Gov.br

Setembro, além de ser conhecido como o mês de prevenção ao suicídio, também promove outro tema importante e que precisa ser debatido: a visibilidade da comunidade surda. O movimento começou em 2011 e escolheu setembro devido a diversas datas relevantes, como a Semana Internacional dos Surdos (20 a 26), Dia Internacional da Língua de Sinais (23), Dia Nacional do Surdo (26) e Dia Internacional do Surdo e do Profissional Tradutor e Independente (30). O azul também tem um significado: na Segunda Guerra os nazistas amarravam fitas azuis em pessoas surdas para identificá-las, e a comunidade escolheu essa cor como forma de representar sua superação e a luta.
Em 1951, foi estabelecida, em Roma, a Federação Mundial dos Surdos (WFD), é responsável por participar das decisões políticas que afetam as vidas de pessoas surdas, buscando igualdade e acessibilidade. A Federação organiza, desde 1951, um Congresso Mundial a cada quatro anos, no qual reúne a assembleia geral para formular as diretrizes dos próximos anos de trabalho, além de realizar uma programação cultural. A última edição ocorreu em 2023. Este ano, eles realizaram, em 2025, a 5ª Conferência WFD, que objetivava fortalecer a governança, integrando Inteligência Artificial (IA) e construindo estratégias de financiamento sustentável.
A campanha não é tão conhecida quanto o Setembro Amarelo, mas seu objetivo é mudar isso e trazer mais visibilidade e representatividade para essa população, além de ensinar mais sobre Libras (Língua Brasileira de Sinais) e conscientizar sobre o preconceito e as dificuldades enfrentadas. Diversas faculdades, incluindo a Uerj, oferecem Libras como disciplina, o que é muito importante, mas a língua ainda é pouco acessível, visto que não está presente na maioria das escolas, por exemplo. Essa inacessibilidade contribui diretamente com a exclusão de pessoas surdas na sociedade, que podem ter dificuldade de interagir socialmente, porque não conseguem se comunicar com a maioria da população ouvinte, o que atrapalha em diversas áreas de suas vidas.
Gustavo Fontenelle, aluno do 3º período de Relações Públicas, cursou Libras no semestre anterior e falou com o COMUNICA sobre a importância de pessoas ouvintes, como ele, aprenderem Libras. “Foi muito bom ter a oportunidade de aprender Libras. A professora nos deu uma boa base para a gente conseguir se comunicar. Eu acho que é muito importante, especialmente para nós que trabalhamos com comunicação, porque temos que nos comunicar com todos, ouvintes ou não, e é muito frequente que a gente não saiba o que fazer quando encontramos uma pessoa surda. É essencial que exista esse mês de conscientização, considerando que a maior parte da população não está muito envolvida nesse tema.”
O COMUNICA também conversou com Isabelle Maia, professora de Libras no setor de Letras da Uerj e integrante da comunidade surda: “O Setembro Azul é um mês muito especial para a comunidade surda, porque traz visibilidade, conscientização e valorização da nossa identidade, da cultura surda e da Libras, que é a nossa língua. Essa campanha é importante porque ajuda a sociedade a perceber que as pessoas surdas não precisam de ‘caridade’, mas sim de acessibilidade, respeito e oportunidades iguais.”
Isabelle destacou algumas ações que considera fundamentais para melhorar a acessibilidade: “Garantir intérpretes de Libras em serviços públicos, hospitais, escolas, universidades, eventos culturais e religiosos; investir em materiais acessíveis em Libras e legendados; e promover políticas públicas que reconheçam e fortaleçam a comunidade surda em todas as áreas sociais.”
Essa conscientização e a busca pela acessibilidade são urgentes, visto que muitas pessoas sequer sabem da existência da campanha de Setembro Azul. Enquanto muitas questões sociais são debatidas somente em determinado momento do ano, nos seus respectivos meses de divulgação, as adversidades enfrentadas pela comunidade surda não recebem destaque nas grandes mídias nem mesmo em setembro.
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