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  • Foto do escritorGabriel Amaro

Qual é a idade certa?


Foto: Flickr/Paul Hardy


Por Gabriel Amaro


Vó Luísa sempre foi conhecida como a senhora mais gentil do Encantado. Com seus cabelos grisalhos sempre bem penteados e um sorriso no rosto, ela tinha um jeito de ouvir e entender as pessoas que cativava a todos que a conheciam. Porém, por trás dessa imagem, havia um sonho que nunca foi concretizado: se formar no ensino superior. Casou-se e teve filhos ainda muito jovem, e a partir daí dedicou sua vida à família, sem nunca esquecer dos sonhos que ficaram para trás. Agora, viúva e com cinco filhos e 12 netos, Luísa decidiu que era hora de recomeçar. Fez o vestibular da Uerj e – contra todas as expectativas – passou. Começou a faculdade de Psicologia aos 68 anos, rodeada de jovens que poderiam ser seus netos, mas continuava entusiasmada em estudar a mente humana e entender melhor as pessoas. Encontrou resistência por parte de alguns filhos, que achavam que ela deveria continuar se dedicando apenas aos familiares, e apoio de outros, que admiravam sua coragem e determinação.


A faculdade não foi fácil. Alguns alunos faziam piadas com sua idade, enquanto outros a olhavam de cima para baixo e comentavam que aquela não era a fase da vida certa para estudar. O preconceito chegou a desestimulá-la, mas sua perseverança e o apoio de amigos da turma, de parte de sua família e de todos que conheciam e admiravam sua história fizeram com que decidisse continuar. Luísa foi se adaptando à vida universitária e se apaixonando cada vez mais pela psicologia. Passou a frequentar a biblioteca, a participar de grupos de estudos e a se envolver em projetos de pesquisa.


Aos poucos, Luísa foi mostrando que idade não é limitação. Ela se destacou na faculdade, foi convidada a dar palestras sobre sua trajetória de vida e se tornou um exemplo para muitas pessoas que pensavam que já era tarde demais para seguir seus sonhos. Luísa compreendeu que não existe idade certa para ser feliz e realizar suas vontades. Aprendeu que nunca é tarde para assistir desenhos animados, ou para gostar daquela banda ou artista que todo mundo pensa que só quem é mais jovem gosta. Ela entendeu que mudanças bruscas de carreira em busca de felicidade são plausíveis, assim como é possível viver uma paixão em fases tardias da vida. Luísa conheceu pessoas que se alfabetizaram na velhice e percebeu o quanto se sentiam realizadas por isso.


Vó Luísa, agora mais Luísa do que nunca, é vista pelos colegas como uma das mais queridas e respeitadas alunas da turma. Ela continua estudando, aprendendo e ensinando que nunca é tarde para se reinventar e buscar a felicidade. A sociedade cria padrões e expectativas em relação à idade, mas a discriminação etária não pode ser um obstáculo para a realização dos sonhos; cada pessoa tem seu próprio tempo e deve seguir seus desejos. Luísa é a prova viva de que não há idade certa para fazer as coisas e que, enquanto houver vida, sempre há tempo para recomeçar.



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