#PersonagensDaUerj: Yasmin Jardim/Professora, mestranda e apaixonada pelo carnaval
- Comunica Uerj
- 30 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de out.
Entre o barracão e a sala de aula: a sociologia como ponte
Por: Beatriz Barbiere
Reprodução: Yasmin Jardim

Criada em Bonsucesso, Yasmin Jardim transformou a curiosidade em projeto de vida. Primeira de sua família a entrar na universidade, fez licenciatura em Ciências Sociais na UFRJ e se apaixonou pela pesquisa acadêmica. Hoje, mestranda em sociologia, ela investiga os bastidores do Carnaval carioca e reflete sobre o trabalho dos profissionais que constroem a festa. Entre o universo dos barracões e a experiência na docência, Yasmin se reconhece como alguém que não só abriu caminhos, mas também deseja multiplicar pontes. Com sorriso largo, constrói uma trajetória que mistura sonho, luta e afeto.
Quando você começou a estudar na Uerj?
Entrei em 2024 no mestrado em sociologia do I
nstituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp). Estar aqui é a realização de algo que eu carregava desde lá atrás.
Quem é a Yasmin Jardim?
Sou suburbana, nasci e moro em Bonsucesso. A primeira da minha família a fazer faculdade e também a primeira a chegar ao mestrado. Sempre tive clareza de que ou eu entrava numa universidade pública, ou não teria como fazer graduação. No início, queria História, mas acabei entrando em Ciências Sociais na UFRJ e me apaixonei. Meu lado fofoqueira ficou muito feliz quando descobri que podia estudar de tudo, falar de tudo. Depois, esse caminho me levou à licenciatura e à pesquisa. Sou, acima de tudo, curiosa e persistente: essa curiosidade me trouxe até aqui, inclusive ao Carnaval.
Qual é a sua relação com a Uerj hoje?
É uma relação de sonho realizado. Eu queria ter feito a graduação aqui, mas só consegui chegar agora, no mestrado. O campus de Botafogo, onde fica o Iesp, é um pouco mais distante da vida cotidiana da universidade, mas ainda assim me sinto parte dela. Muitas vezes venho ao Maracanã para acompanhar projetos e pesquisas ligadas ao samba e ao carnaval, e é nesse movimento que encontro ainda mais sentido em estar aqui. A Uerj acabou se tornando um espaço de reconhecimento e pertencimento.
Você é autora do texto ‘Barracão de Carnaval: reflexão sobre os trabalhadores da folia’, no qual discute as condições de trabalho dos profissionais e artistas das escolas de samba. Como surgiu esse interesse de pesquisa e o que mais a marcou nesse mergulho pelo universo do Carnaval?
Sempre fui fascinada pelo Carnaval. Não venho de família de escola de samba, mas cresci vivendo essa paixão coletiva, assistindo juntos aos desfiles em casa. Cheguei a desfilar na Pimpolhos da Grande Rio quando era criança e aquele mundo me marcou muito. Na universidade, me dei conta de que poderia transformar esse encantamento em objeto de pesquisa. Entrei no barracão da Grande Rio como pesquisadora e terminei como voluntária dos aderecistas, ajudando a montar fantasias. O que mais me marcou foi essa contradição entre precariedade e paixão no trabalho: jornadas exaustivas, informalidade e riscos constantes, mas também muito orgulho pelo que se constrói ali. Teve dias em que eu chegava cedo ao barracão e só saía à meia-noite. Ainda assim, a sensação de ver o Milton Cunha elogiar como uma das fantasias mais bonitas justamente a baiana que eu tinha ajudado a fazer era indescritível. Esse momento mostrou o quanto esse trabalho carrega não só esforço, mas também paixão e reconhecimento.
Você também fala muito sobre a docência, ressaltando que dar aula não é um dom, mas um trabalho complexo, que exige estudo e preparo. O que mais a desafia e lhe encanta nessa profissão?
Dar aula nunca foi um dom para mim e acho que não é para ninguém. É técnica, é preparo, é estudo. O que me desafia é pegar conceitos complexos e torná-los acessíveis, mostrar para o aluno que a sociologia não é algo distante, mas o que ele já vive. Explicar Marx, por exemplo, pode ser falar sobre o medo de ficar desempregado e não ter o que comer. Esse é o lado difícil, mas também o mais bonito. É isso que me encanta: ver que o conhecimento está na vida e que meu papel é apenas aproximar teoria e experiência. Infelizmente, a reforma do ensino médio tornou mais difícil o espaço da sociologia nas escolas. Não estou em sala de aula agora, mas sigo acreditando na importância desse lugar.
Você tem alguma história curiosa ou interessante relacionada à Uerj?
Acho que a mais marcante é justamente essa que envolve meu sonho antigo. No terceiro ano do ensino médio, eu estudava de forma muito focada para entrar na Uerj. Não passei e lembro de andar em frente ao campus e chorar. Foi como perder algo que não era só meu, mas um projeto coletivo, da minha família e de toda a rede que me apoiava. Anos depois, quando entrei no mestrado, fui ao campus do Maracanã assistir a uma atividade de samba e vi aquelas plaquinhas ‘Oi, eu estou na Uerj’. Fiz questão de tirar uma foto e dizer: ‘agora sim, cheguei.’ Pode não ter sido na graduação, mas era a realização daquele sonho que parecia impossível.
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