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#PersonagensdaUerj: Math de Araújo/Escritor, poeta e estudante de Jornalismo

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 23 horas

Entre poesia e jornalismo, uma voz que ecoa da Maré para a Uerj


Por: Beatriz Barbiere


Reprodução: Ratão Diniz

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Nascido e criado na Maré, Math de Araújo é escritor, poeta, comunicador e artista independente. Atualmente, cursa Jornalismo na Uerj, onde encontrou, não só um espaço de formação acadêmica, mas também de desenvolvimentos artístico e pessoal. Autor de livros como Maré Cheia e Capitães de Água, Math constrói uma literatura de acolhimento e questionamento, alinhando sua vivência periférica e racial com uma produção totalmente autônoma.


Quando você começou a estudar na Uerj?


Em 2022. Eu tinha começado Letras na UFRJ, mas percebi que precisava de algo mais conectado à prática e à comunicação com o mundo fora da academia. Já trabalhava com comunicação institucional na ONG Luta Pela Paz na Maré, então o jornalismo foi a junção perfeita entre carreira e expressão artística.

Quem é o Math de Araújo?


O Math de Araújo nasceu da necessidade de quebrar a introspecção do Mateus de Araújo. Fui uma criança e adolescente tímido, mas entendi que isso também tinha relação com questões raciais, como uma ferramenta de silenciamento. A escrita foi meu jeito de me expressar e não me invisibilizar. Comecei em 2015, motivado por uma paixão adolescente e percebi que poderia ir muito além disso. Desde então, sigo escrevendo para me conectar com outras pessoas e elaborar minha visão de mundo.

Qual é a sua relação com a Uerj hoje?


É um pouco enigmática. Conciliar estudos e trabalho não é fácil, e a universidade nem sempre pensa na rotina de quem é trabalhador. Mas, afetivamente, a Uerj é meu refúgio. É aqui que me desenvolvo artisticamente, estudo, crio e me conecto com pessoas além dos espaços de casa e do trabalho. É um lugar de acolhimento e possibilidades, que marcou uma transição importante na minha vida. Existe o Matheus antes da Uerj e vai existir um outro Matheus após.

A Maré aparece com força no seu trabalho. Como essa vivência dialoga com a sua trajetória na Uerj e influencia sua escrita?


A Maré está presente em tudo o que escrevo, porque foi lá que me formei como pessoa. Meu primeiro contato com a Uerj, de certa forma, foi encontrando outros universitários que também vieram da Maré. A minha escrita parte desse lugar da minha criação, do meu letramento de mundo para depois passar pelo letramento racial e de gênero. Isso também me ajuda a entender meu lugar na universidade. Essa vivência e as dinâmicas da universidade acabam aparecendo nos meus textos. Um exemplo é o poema Prego no Chinelo, que fala sobre essa correria do dia a dia, a pressa de atravessar ruas sem olhar para os lados, de arrebentar o chinelo por andar rápido demais, de tentar encurtar o espaço entre o preço pago pelo empregador e o valor do empregado. É sobre esse lugar de onde vim, onde estou e para aonde quero ir e a Uerj faz parte desse caminho. Por mais que eu perceba que a universidade muitas vezes não é pensada para jovens que trabalham, dependo dela para poder prosseguir.

Você conduz todo o processo criativo e editorial dos seus livros. Como essa autonomia influencia sua forma de se expressar e se conectar com o público?


Primeiro, pela identificação: como pessoa preta e também com traços indígenas, minha escrita carrega identidade e ancestralidade. Essa autonomia me permite que a subjetividade esteja presente em cada detalhe. Minha literatura se recusa a reduzir a nossa humanidade apenas às dores. Essa escrita está presente no meu livro Capitães da Água, em que busco elaborar essas dores, transformá-las em afeto e reflexão. Isso aproxima o leitor, que acessa tanto a realidade social quanto a poesia que ela carrega.

Você tem alguma história curiosa ou interessante relacionada à Uerj?


Tenho algumas. Uma muito especial foi ter fotografado a cerimônia de entrega do título de Doutor Honoris Causa para Gilberto Gil. Estar ali, tão perto dele, e conseguir registrar aquele momento foi emocionante, ainda mais porque minha formação literária também passa pelas músicas do Gil. Outros momentos importantes foram os eventos FCS Cria e o Macacos, semanas de arte, cultura e comunicação aqui na universidade. Nessas ocasiões, enquanto escritor, pude dividir a mesa com colegas de turma e conseguir mostrar, na prática, que a literatura pode estar tão próxima quanto a pessoa sentada ao seu lado na sala. Isso reforça minha vontade de manter um fazer artístico que não se coloca num pedestal, mas que é acessível e coletivo.


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