#PersonagemdaUerj: Carla Alves/Estudante de História, pedagoga e influencer
- Comunica Uerj
- 9 de set.
- 3 min de leitura
Da sala de aula aos stories: quem é Carla Alves, estudante da Uerj e voz do @acarlafala
Por: Beatriz Barbiere
Foto: Arquivo pessoal/Carla Alves (@acarlafala)

Carla Alves, 28 anos, é pedagoga formada pela Uerj e agora estudante de História na mesma universidade. Moradora no Itanhangá, criada em diferentes comunidades do Rio e de Niterói, é filha e neta de mulheres pretas e solo, marcas que atravessam sua trajetória pessoal e acadêmica. Nas redes sociais, com o perfil @acarlafala, viralizou ao transformar em humor as dificuldades da vida universitária e da rotina real de uma mulher negra. Entre estudos, sonhos e incertezas sobre o futuro, Carla segue firme em seu desejo de ocupar espaços e abrir caminhos.
Quando você começou a estudar na Uerj?
Oficialmente, minha primeira graduação começou em 2018.2, quando entrei em Pedagogia. Agora, em 2024.1, iniciei História.
Quem é a Carla Alves?
Eu costumo dizer que sou muito doida, falo demais, mas minha história começa mesmo sendo filha de mãe preta que me criou sozinha e neta de uma avó preta que também criou cinco filhos sozinha. Sempre fui periférica: nasci no Caramujo, em Niterói, passei pela Cruzada de São Sebastião, no Leblon, morei no Rio Comprido e hoje estou na Muzema. Minha vida sempre esteve ligada à periferia. Se tivesse que me definir, diria que sou uma mulher sonhadora. Durante muito tempo, fomos criados para não sonhar, só para estudar e tentar ‘chegar lá’ pelo mérito. Então, só recentemente comecei a me permitir sonhar de verdade.
Qual sua relação com a Uerj?
É uma relação de amor e ódio, igual todo uerjiano entende. Mas é, principalmente, uma relação de sonho realizado. Eu já dizia que queria estudar aqui quando ainda estava na Faetec. Fiz a prova, não passei de primeira, insisti e consegui. Hoje, a Uerj literalmente me sustenta, porque estou procurando trabalho e é daqui que vem meu apoio financeiro e psicológico. É aqui também que me reconheço, mesmo com os desafios. Posso reclamar entre uerjianos, mas se alguém de fora falar mal, eu defendo a Uerj até o fim.
Nos seus conteúdos você fala de vida real, de ser mulher negra e também da rotina universitária. Qual é a importância de dar visibilidade para essas experiências?
É sobre identidade. Hoje fico feliz de ver cada vez mais estudantes negros ocupando espaço e mostrando sua cara. Mas também sei que falta muito. Durante muito tempo essa identidade foi negada, quase roubada da gente. Então, acredito que cada um, do seu jeito, precisa se colocar, compartilhar sua realidade e ocupar espaço. É importante, porque gera identificação, abre caminho e mostra que estamos aqui.
Em um dos seus vídeos sobre a Uerj, você fez um comentário que brinca com o fato de não ter amigos na faculdade. Esse tom divertido também fala de pertencimento. Como é para você viver a universidade sem ter uma rede próxima e como o humor ajuda nisso?
É engraçado, mas é sério. Eu já chorei várias vezes por me sentir sozinha na Uerj. Quando entrei em História, tive problemas com os cortes no auxílio estudantil e acabei não conseguindo acompanhar a minha turma. Isso me deixou isolada. Ver grupos formados, gente estudando e almoçando junto enquanto eu estava sozinha foi doloroso. Eu sou muito comunicativa, gosto de conversar, de ter amigos, de compartilhar coisas simples como uma janta no bandejão. Então, não ter essa rede aqui doeu bastante. Aí o humor entrou como uma forma de lidar com tudo isso: transformo a solidão em piada, mas é uma crítica também. Sempre gostei de rir da vida, mesmo quando ela pesa, e acho que meu conteúdo nasceu justamente dessa necessidade de levar a vida de um jeito mais leve, usando a graça para aproximar as pessoas e trazer reflexões.
Você tem alguma história curiosa ou interessante relacionada à Uerj?
Tenho, mas é pesada. Em 2018, quando entrei em Pedagogia, me inscrevi para cotas raciais. Só que, na época, o processo era diferente: depois de já estar matriculada, me chamaram para uma entrevista. Entrei numa sala com cinco homens brancos que olharam minhas fotos e me perguntaram por que eu me considerava uma mulher negra. Achei que fosse piada, mas não era. Respondi o óbvio: porque eu sou negra, minha mãe é negra, meu pai é negro. Mesmo assim, minha cota foi indeferida. Continuei o curso como ampla concorrência. Foi doloroso, porque a Uerj é pioneira nas cotas, mas também erra dentro de casa. Hoje,falo sobre isso nas disciplinas e com quem é da universidade, porque é importante olhar para nossas falhas também. Mas, apesar disso, sigo firme: sou Uerj até o fim.
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