top of page
  • Foto do escritorComunica Uerj

#PERSONAGEM DA UERJ// Joel: Pipoqueiro do portão 5

Atualizado: 22 de set. de 2023

'A minha relação com a Uerj é de carinho e recomeço. Recomecei a minha vida profissional aqui'


Foto: Angelo Henrique


Por: Angelo Henrique

Com sangue mineiro e carioca, Joel Macedo dos Santos, ou “Joelzinho Passarinho” – como é conhecido no Morro da Mangueira – é, aos 70 anos, pai de três filhos, tem nove netos e já é bisavô. Feliz e de bem com a vida, Joel trabalha há 18 anos vendendo pipocas em frente à portaria do bloco C, do campus Maracanã, passagem para quem entra pelo portão 5.


Irreverente e descontraído, Joel logo topou participar da nossa homenagem e nos presenteou com uma agradável, divertida e muito interessante conversa. Sabe aquele papo bom, que parece só faltar um copo americano, com café ou cerveja, para acompanhar? Joel é tão gente boa e querido por todos que até a ausência do copo e da mesa de bar é esquecida diante de seu carisma e da simpatia que oferece a quem passa.


Do fim da manhã ao início da noite, seu Joel está na Uerj pronto para atender – com pipoca salgada ou doce, e direito a manteiga derretida, leite condensado, granulado e coco ralado, a partir de três reais. E o melhor: em meio a dias corridos e cansativos, mais do que uma pipoca quentinha, seu Joel entrega também um largo sorriso e um papo acolhedor; daqueles que nos fazem refletir, nos confortam, e muitas vezes, até nos dão força para os próximos rounds do dia.


Vale a pausa, a pipoca e a prosa. Mais do que um afago para o paladar e o estômago, há um carinho para a mente e o coração. Nos momentos de maior pressa, você poderá contar com seu aceno e um cumprimento sempre sorridente.


Conta um pouco como o senhor chegou até a Uerj

Sou lanterneiro, trabalhava em oficina, mas eu queria parar. Larguei a oficina, comecei com a pipoca na porta de casa, na favela da Mangueira. Daí eu soube que aqui (na Uerj) tinha um pipoqueiro e ele tinha ido embora. Aí me deu vontade de vir aqui! Vim, conversei com o pessoal, e consegui a oportunidade. E aqui estou eu! Dezoito anos aqui já. E não tenho vontade de sair daqui, não. Só saio daqui morto (risos) ou se eles me mandarem embora, né? Me aposentei, mas continuo aqui. Eu gosto muito.


Nesse tempo todo o senhor viu muitas mudanças na Uerj?

Olha, vou fazer dezoito anos de Uerj em março. Nesse tempo, eu vi muita coisa mudar, principalmente depois da pandemia. Isso aqui antes da pandemia, puxa vida! A essa hora (por volta de 13h30m), eu não poderia conversar contigo, não. Estava ralando pra caramba! Depois da pandemia, o movimento caiu bastante. Fiquei dois anos em casa. Tava que nem cachorro vira-lata; comendo, bebendo e dormindo – e doidinho para ir para rua. E não dava para levar a carroça, que a prefeitura pegava. Não podia. A carroça ficou aqui. Passei pela pandemia com saúde, graças a Deus! Tomei todas as vacinas. Vou dar mole nada!

Depois de 18 anos por aqui, como o senhor vê a sua relação com a Uerj?

A minha relação com a Uerj é de carinho e de recomeço. Recomecei a minha vida profissional aqui. Abandonei a lanternagem, depois de trinta anos.. Foi a maneira que eu encontrei de me reinventar. Essa é a minha segunda carroça, mandei fazer com essa imagem que marca meu ponto, dizendo ‘Eu amo a UERJ’ e minha foto.


Estou com 70 anos, não tenho mais saúde e nem paciência para empurrar carroça por aí. Quando dá meu horário, eu guardo a carroça e vou para casa feliz, assobiando. A lanternagem é um trabalho pesado. E eu trabalhava com automóvel, caminhão, ônibus, qualquer coisa, o que viesse eu estava pegando. Chegou a um ponto que eu cansei. Falei ‘vou parar’. Até hoje me chamam, mas eu não quero. Falo ‘não, bota anúncio no jornal’ (risos). Aqui, só têm me acontecido coisas boas. A única época triste que foi a pandemia. De resto, só lembro de coisas boas aqui da Uerj. Quero mais é leveza e tranquilidade.


Aos 70 anos qual é a leitura que o senhor faz da vida e qual é o seu conselho para os mais novos?

O pessoal na Mangueira me chama de ‘Joelzinho Passarinho’, porque eu só ando cantando, assobiando. Antigamente, andava muito o morro. De uns anos para cá, parei um pouco. Não tenho mais idade para isso, sabe? Graças a Deus, estou sempre de bem com a vida. Vivo assobiando por aí, acordo cantando e não quero briga com ninguém.

Meu pai era meio sem vergonha, sabe? Desconfio que tenho irmão até em Minas. Meu pai trabalhava na rede ferroviária, trabalhava quinze dias e folgava quinze. Tenho mais três irmãos no morro (da Mangueira). A gente conversa, bate papo. Me dou bem todos eles, graças a Deus. Tenho três filhos, todos encaminhados. Já me deram netos e bisnetos. Eu reclamei que queriam me botar velho a qualquer custo (risos). Hoje tenho nove netos e quatro bisnetos. Já falei que não me arrumem tataraneto!


Eu tô com 70 anos e digo aos jovens que a vida é boa. O pessoal, eu acho, não tá sabendo aproveitar. Estão se drogando muito, tem muito jovem que só quer saber de baile funk. Se eu pudesse, teria estudado mais. Quando eu era mais novo, você fazia o primário, eram quatro anos. Fazia o ginásio, eram mais quatro anos. Depois, para fazer o colegial, tinha que pagar. Se a família não tivesse condições, você não conseguia ir muito longe, infelizmente.


Uma cliente chega para comprar pipoca e eu encerro o papo com seu Joel, que conta ainda que seu único filho (ele tem duas moças e um rapaz) ficou famoso recentemente por ser o namorado da Babi Cruz, empresária, produtora e esposa do cantor Arlindo Cruz.



49 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page