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Paradoxo inglês: por que o futebol não reinou em suas ex-colônias ?

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    Comunica Uerj
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Invenção inglesa se popularizou globalmente, entretanto críquete e rugby ainda são dominantes em suas antigas colônias


Por: João Pedro Serafim Alves


 Reprodução: Pexels

Prática do críquete
Prática do críquete

O futebol é atualmente o esporte número um do mundo, a Copa do Mundo, por exemplo, é um dos eventos esportivos mais assistidos e famosos, alcançando uma audiência de 1,5 bilhão de pessoas, na sua última edição em 2022, segundo números divulgados pela Fifa. Apesar disso, existem países, principalmente ex-colônias da Inglaterra – país responsável pela codificação do futebol que conhecemos – em que esse esporte não possui a mesma popularidade e nem mesmo disputa para ser o mais popular.


Até o final do século XIX, a Inglaterra era a maior potência do mundo, por causa da Revolução Industrial e sua política imperialista que permitiu sua presença por todo continente do globo. Essa expansão permitiu à Inglaterra não só explorar esses territórios quanto também exportar sua cultura a todos os países dominados.


Observamos os reflexos dessa exportação até os dias atuais, pois mesmo territórios não colonizados pelos ingleses receberam sua influência cultural, incluindo a prática de esportes popularizados por ingleses como críquete, rugby, hóquei, badminton, turfe e futebol. Assim é importante lembrar que o Império Britânico dava muita importância às práticas esportivas, implementando-as no sistema educacional inglês como forma de ensinar os valores ingleses.


Críquete e rugby: esportes da elite


O rugby surgiu, no século XIX, nas escolas e nas universidades inglesas como uma derivação codificada do futebol jogado com os pés. Já o críquete, praticado desde o século XVII, era fortemente relacionado com as apostas. Os nobres que jogavam eram chamados de amadores, pois não recebiam salários – por causa de sua posição social privilegiada – e, por isso, defendiam que o esporte não deveria ser profissional. Enquanto as classes mais baixas podiam participar, e até mesmo ganhavam dinheiro, o que ajudou a popularizar o esporte na sociedade inglesa. Assim, a apreciação da nobreza por ambos os esportes contribuiu para a sua disseminação nas colônias. 


Futebol: um esporte das massas


O futebol moderno surgiu nas universidades e nas escolas inglesas. Embora sua prática existia há séculos, com vilas e regiões praticando-o com suas próprias regras – como o "mob football", descrito como um grupo desordenado de pessoas chutando uma bola pelas ruas até fazerem o gol, sua prática era de grande violência, causando até mortes, o que levou à sua proibição pelo rei Eduardo III. Apesar da proibição, o esporte continuou a ser praticado. A industrialização e a urbanização das cidades inglesas também foram fundamentais para sua  popularização entre as camadas populares, tornando obsoletos os esportes tradicionais como a caça e virando o passatempo favorito dos trabalhadores que possuíam apenas as tardes de sábado para lazer.


Devido à forte influência comercial e ao domínio tecnológico da Inglaterra, os trabalhadores das companhias ferroviárias e marinheiros foram importantes figuras nesse processo de popularização do esporte para outros continentes. A questão é: se o futebol chegou às outras partes do mundo, por que ela não se popularizou nelas? A razão para essa diferença está no modo como o esporte foi introduzido. “Nas colônias, o intercâmbio com a Inglaterra era muito diferente, havia uma administração pública inglesa e a criação de escolas e universidades. O país exercia uma influência mais complexa nesses países”, aponta o jornalista Ubiratan Leal, comentarista dos canais ESPN. 


Desse modo, por conta da relação puramente comercial com as colônias, os trabalhadores não conseguiram enraizar o futebol na cultura dessas regiões. Em contraste, nas colônias britânicas com o intenso contato entre as elites e os colonizados, o críquete e rugby foram introduzidos no ambiente colonial. As elites locais buscando aceitação e status incorporaram a prática desses dois esportes juntamente com os próprios nativos que viam a vitória nos jogos contra as elites coloniais como uma forma de resistência. Logo, esse contexto social foi fundamental para popularização do rugby e críquete nas ex-colônias britânicas, assim deixando o futebol em segundo plano nesses países.



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