Pancs podem diversificar dieta e promover sustentabilidade
- Comunica Uerj
- 30 de set.
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Consumo de plantas alimentícias não convencionais depende de valorização de cultivo, comercialização e acesso à informação
Por: Alexandre Augusto
Foto: Ministério da Saúde

As plantas comestíveis sempre fizeram parte da alimentação do brasileiro, mas nem todas possuem o mesmo valor comercial de raízes como aipim e cenoura, do tubérculo batata inglesa ou de folhas como alface e chicória. Esse é o caso das Plantas Alimentícias Não Convencionais – as chamadas Pancs. Ainda pouco utilizadas na culinária do dia a dia, essas plantas representam uma oportunidade para diversificar a dieta e promover práticas agrícolas mais sustentáveis.
Espécies como ora-pro-nóbis, azedinha, moringa e taioba são ricas em nutrientes e apresentam quantidades de ferro, cálcio e proteína equivalentes ou superiores às de alimentos populares como couve e espinafre. Apesar disso, continuam pouco conhecidas pela maioria da população. Para a professora Rafaela Fabri, do curso de Nutrição da Uerj, é fundamental promover o acesso à informação sobre essas plantas. “As Pancs são para todos. É preciso ampliar seu cultivo, comercialização e acesso à informação, para que elas sejam vistas como parte de uma alimentação diversa, e não como algo restrito ou emergencial”, afirma.
Embora existam em diferentes biomas brasileiros, o consumo e o conhecimento das Pancs variam muito de região para região. No Rio de Janeiro, por exemplo, é comum o consumo de bertalha, enquanto a ora-pro-nóbis é mais popular em Minas Gerais. Em geral, essas plantas são mais utilizadas por agricultores familiares, povos indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas, que mantêm vivas práticas alimentares ancestrais, muitas vezes invisibilizadas nas grandes cidades.
Nos centros urbanos, o uso dessas plantas foi progressivamente deixado de lado, reflexo de um mercado alimentício cada vez mais globalizado e da padronização de hábitos alimentares. “Esse saber foi se apagando ao longo do tempo, em função da desvalorização de espécies que não ganharam espaço no mercado. É preciso resgatar o uso dessas plantas, que vêm das comunidades tradicionais”, reforça Fabri.
A falta de interesse comercial das Pancs também explica a ausência desses alimentos nas prateleiras de feiras e mercados. Muitos agricultores reconhecem e cultivam essas plantas em suas propriedades, mas acabam não comercializando devido à baixa demanda. Em alguns casos, elas são vistas como ervas daninhas e eliminadas antes mesmo de serem consideradas uma opção alimentar.
Na contramão disso, Fabri reconhece a importância de ampliar o cultivo e a oferta de Pancs no mercado de alimentos, pelo seu potencial de impulsionar práticas agrícolas mais sustentáveis e de incentivar os pequenos produtores. Essas plantas se destacam por dispensarem o uso de agrotóxicos quando cultivadas em solos saudáveis e por crescerem facilmente em pequenos espaços, como hortas urbanas.
Resgatando o sabor e o saber das Pancs
Na Uerj, uma iniciativa recente para incentivar a popularização dessas plantas alimentícias pouco conhecidas e aproximar o público de seus usos possíveis foi a oficina culinária Matos de Comer – Cozinhando com Panc promovida pelo Instituto de Nutrição, no dia 24 de setembro. Voltada para estudantes e público externo, a atividade integrou o projeto Práticas de Sustentabilidade em Produção de Refeições, coordenado pela professora Rafaela Fabri, e combinou teoria e prática em uma experiência gastronômica educativa.
Durante a atividade, os participantes prepararam e degustaram pratos criativos utilizando Pancs, aprendendo na prática como incorporá-las ao cotidiano. Mais do que ensinar receitas, a experiência despertou reflexões sobre os hábitos alimentares e a relação com os alimentos. Ana Alice de Melo, estudante de Pedagogia, contou que a atividade mudou sua relação com a comida: “Sempre fui chata para comer, mas o curso me fez experimentar pratos diferentes e abrir meu paladar – hoje quero incluir essas plantas na minha alimentação do dia a dia.”
Foto: Alexandre Augusto

Participantes preparam receitas com Pancs em laboratório de Nutrição
Já Laís Oliveira, aluna de Nutrição, destacou a oportunidade de aprender a aproveitar ingredientes encontrados em casa. “Tinha coentro selvagem no meu quintal e nunca soube como usar – agora estou aprendendo uma receita com ele. Também já conhecia a folha de limão, e é ótimo saber que posso incorporá-la às preparações”, compartilhou.
Ao promover esse tipo de iniciativa, a universidade amplia o acesso à informação sobre as Pancs, valoriza saberes tradicionais e reforça o papel dessas plantas como ferramenta de transformação alimentar, cultural e ambiental.
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