Macacos Uerj promove oficina de tranças
- Comunica Uerj
- há 2 dias
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XIX Mostra de Arte e Carpintaria de Comunicação Social reuniu duas trancistas do Campus Maracanã.
Por Mariana Guimarães
Foto por: Mariana Guimarães

Ancestralidade, identidade, resistência e autoestima foram alguns dos temas abordados na oficina de tranças promovida pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos) no Macacos Uerj. O evento aconteceu no dia 15 de abril e contou com a presença de Dayane Pimenta e Allana Barbosa, ambas trancistas e alunas do curso de Relações Públicas. A oficina foi dividida em dois momentos – um bate-papo sobre trajetórias, história e vivências, e uma parte prática para que todos colocassem as mãos na massa, ou melhor, nos cabelos.
Fundadora da empresa Trançadas RJ, Dayane atua há sete anos como trancista profissional e contou, emocionada e orgulhosa, sobre sua trajetória e como transformar um hobby em trabalho a levou a lugares impensáveis: “Através das tranças eu conquistei a minha independência financeira, consegui pagar meu vestibular, fiz minha primeira viagem e inclusive participei de um clipe da Anitta.”
Também conhecida como Allana Braids, nome do seu perfil profissional no instagram, Allana viu nas tranças uma oportunidade de largar seu emprego como jovem aprendiz e trabalha na área há cinco anos. Ela contou que no começo sentia insegurança em não conseguir clientes, mas quando se deu conta já estava lidando com a alta demanda pelo seu trabalho.
As jovens falaram sobre a história das tranças e como, desde o passado, elas representam símbolos de resistência e expressão da identidade afro. Durante o período da escravidão, as tranças eram usadas para transmitir mensagens, identificar tribos, funcionavam como mapas de fuga e também para esconder sementes e outros itens essenciais. Após três séculos de opressão, elas seguiram sendo um poderoso símbolo de resistência e identidade para os afrodescendentes, além de uma forma de expressão pessoal e cultural, carregando consigo, não apenas beleza, mas também história.
Na imagem abaixo estão alguns dos penteados apresentados, sendo eles modelos nagô, gypsy braids, fulani braids e a box braids.
Foto por: Allana Barbosa

Com o auxílio de um manequim, as trancistas ensinaram o passo a passo de como trançar o cabelo, destacando a necessidade de se ter paciência, pois o processo é lento e detalhado. O primeiro é preparar o cabelo, lavar e secar bem. Em segundo, a parte mais complicada, as divisões feitas com um pente bem fino para que as tranças estejam bem alinhadas e proporcionais. Por fim, o cabelo finalmente começa a ser trançado. Nessa última etapa a maior parte do público opta por fazer tranças com jumbo, um material de plástico que imita um cabelo natural, para que as tranças fiquem volumosas e grandes. As mãos rápidas e firmes das duas impressionaram a plateia que experimentava aplicar a técnica.
Foto por: Mariana Guimarães

Durante a prática, as especialistas mantiveram a conversa e acrescentaram alguns pontos. Allana destacou a importância da autovalorização e a necessidade de compreender a beleza dos cabelos naturais, pois muitas clientes se veem presas aos penteados, assim como antigamente se viam presas aos processos de alisamento como progressiva e chapinha: “A trança diz muito sobre quem somos, sobre como nos impomos na sociedade e o nosso cabelo também define isso. Então é muito importante valorizar o que vem antes dessas tranças.”
Sobre pessoas não pretas que gostam e querem fazer tranças, Dayane pontuou que não se opõe, mas o conhecimento e o respeito acerca da história dos penteados afro deve ser obrigação. Ela relembrou um episódio no qual um rapper branco a contratou para estilizar seu cabelo para um videoclipe, alegando que a intenção era parecer um morador de rua, uma associação pejorativa e desrespeitosa.
O evento foi encerrado com o sorteio de duas tranças, uma com cada profissional, para as pessoas que estavam presentes no auditório. A oficina leve e descontraída abordou assuntos relevantes e demonstrou que as tranças possuem uma importância profunda que vai muito além da estética.
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