Na mesa de jornalismo esportivo, convidados motivam estudantes a seguirem a área apesar de seus altos e baixos.
Foto: Tiago Mendes
Por Tiago Mendes
Grandes nomes do jornalismo esportivo marcaram presença no evento organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Dudu Monsanto, Tadeu Aguiar, Vanessa Riche, Geraldo Mainenti, Afonsinho, José Trajano, Márcio Guerra e Lúcio de Castro promoveram importantes debates inerentes ao jornalismo esportivo. A palestra aconteceu no dia 28 de março e fez parte da primeira Semana Nacional de Jornalismo, que ocorreu entre os dias 27 e 31.
Ao longo da palestra, era possível sentir a vibração que os convidados tinham para contar cada conquista. Das primeiras transmissões até as saídas polêmicas, eles não poupavam detalhes e muito menos escondiam as partes difíceis da profissão. Um dos momentos mais tocantes foi quando os jornalistas foram sinceros ao falar sobre os desafios que ninguém conta sobre o esporte.
Pessoalmente, foi fascinante ver o Afonsinho, ex-jogador do Botafogo e da seleção brasileira, falar sobre a sua experiência como um atleta ativo politicamente durante a época da ditadura militar, as perseguições e os inconvenientes que o jogador enfrentava por se posicionar eram chocantes. Lúcio de Castro também impressionou os espectadores ao comentar sobre sua experiência documentando os poucos registros das ditaduras militares da América do Sul. Além desses, Vanessa Riche marcou sua participação com um discurso empoderado sobre a mulher no espaço esportivo. A única presença feminina da mesa retratou os desafios enfrentados em um ramo machista.
Esse tipo de presença na profissão é algo que fascina nós estudantes a permanecer interessados na área. Muitos ainda acham que o jornalista esportivo deve apenas falar sobre esporte e táticas de jogo, mantendo-se imparcial a opiniões sobre o que acontece mundo afora, economizar “pitacos”. Entretanto, a mesa esportiva que a associação trouxe mostrou que o esporte e as causas sociais como machismo, opressão e desigualdade, sempre andaram juntos.
Porém, ainda que exista essa ligação das causas sociais com o esporte, uma luta desfalcou a mesa dos palestrantes, a luta racial. Chamou muita atenção o fato de nenhum dos oito convidados ser uma pessoa preta. Então, ainda que eles tenham enfrentado enormes desafios em relação ao machismo, à ditadura militar e à opressão, a questão racial foi jogada para escanteio. Isso é algo preocupante. Como, em um local tão importante, com nomes gigantescos da comunicação, não tem nenhum negro?
Como um homem negro e estudante de jornalismo, foi difícil crescer com poucas referências raciais nos programas esportivos. E ainda depois de anos, ir a uma palestra feita pela ABI e não ter uma pessoa preta na mesa, é de se refletir, pois se o jornalismo é um retrato da realidade, isso significa que são poucos os negros que ocupam uma posição de destaque? Indaguei essa pergunta ao Lúcio de Castro, que refletiu sobre a necessidade de inclusão racial no meio, mas também reconheceu sua limitação para responder, tendo em vista seu lugar de fala como homem branco.
Felizmente, essa realidade no esporte sofreu mudanças nos dias atuais e hoje é possível vermos pessoas de cor ocupando lugares de destaque dentro do jornalismo esportivo, não apenas como ex-jogadores ou convidados, como também profissionais da área. Agora é necessário enxergar essa mudança nos palcos de palestras como a da ABI.
Todavia, apesar das dificuldades e empecilhos, os convidados relataram ao público com prazer sobre suas vivências na profissão. Foi de fato energizante, era possível perceber o brilho nos olhos a cada história contada, e mesmo depois de tantos obstáculos eles ainda trabalhavam com aquilo que amavam. Isso inspira qualquer jovem estudante a seguir a carreira jornalística.
Enfim, a mesa de jornalismo esportivo conseguiu trazer ao mesmo tempo conforto, seriedade, sinceridade e um sentimento de esperança, de que vale a pena seguir uma área tão concorrida e desafiadora. De fato, como estudante de jornalismo, assistir a uma palestra com gigantes do meio esportivo, foi sem dúvidas inspirador. Mas cabe pontuar que seria ainda mais animador se houvesse a representatividade que deveria ter.
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