Existe espaço para todos na seleção brasileira de futebol?
- Comunica Uerj
- 9 de set.
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Um padrão nas convocações da equipe alerta para a exclusão de atletas que atuam no Nordeste.
Por Isabella Topfer
Reprodução: Rafael Rodrigues - E.C. Bahia

No último dia 26 de agosto, o técnico do Brasil, Carlo Ancelotti, anunciou os convocados para os dois últimos jogos das eliminatórias da Copa de 2026. Entre algumas novidades e rostos antigos, um destaque, que apareceu somente após o corte de Joelinton por lesão, é o nome de Jean Lucas, meio-campista do Bahia, que estava na pré-lista e foi chamado para suprir a ausência do jogador do Newcastle.
Por que a convocação dele é um destaque? Em primeiro lugar porque a última vez em que um jogador do Bahia vestiu as cores da amarelinha havia sido em 1991, com o meia Luís Henrique. Mas essa disparidade não é exclusiva em relação ao clube baiano, na verdade, ela traz luz para uma questão maior, o baixo número de jogadores do Nordeste a vestirem a camisa do Brasil. Desde 2001, somente cinco atletas atuando na região haviam sido convocados, Jean Lucas é o sexto. Por que isso acontece? Será que os jogadores desses clubes são menos qualificados? Ou existe outra questão por trás disso?
Em 2017, Diego Souza, atuando pelo Sport, foi convocado pelo então técnico do Brasil, Tite, e desde então nenhum jogador de um clube nordestino havia recebido essa oportunidade, até agora, com Jean Lucas. Isso marca um ciclo inteiro de Copa do Mundo (entre 2018 e 2022) e mais alguns anos, sem a presença de representantes do futebol nordestino (ressaltando que estamos nos referindo a jogadores que atuam no Nordeste e não a atletas nordestinos). Nesse período, diversos clubes da região fizeram boas campanhas, como o Fortaleza, que está na Série A do Campeonato Brasileiro desde 2019, foi vice-campeão da Copa Sul-Americana em 2023 e se classificou para a Conmebol Libertadores em duas ocasiões; o Bahia que, em 2024, fez sua melhor campanha na era dos pontos corridos no Brasileirão e conquistou vaga na Libertadores, e, em 2025, é o quarto colocado no campeonato nacional, está nas quartas de final da Copa do Brasil e disputou no último sábado (6) a final da Copa do Nordeste. Lembrando também, que em 2025 o futebol nordestino bateu um recorde de clubes na Série A do Brasileirão, com cinco representantes: Bahia, Ceará, Fortaleza, Sport e Vitória.
Não podemos nos enganar, acreditando que esse bom desempenho só ocorreu recentemente e que a falta de oportunidades no passado é justificada por má atuação. Exemplo disso é a história por trás da transferência de Bebeto, atacante campeão do mundo pelo Brasil, para o Botafogo, que foi revelada recentemente pelo ex-jogador, em uma entrevista à TV Bahia, afiliada da Globo. Ele contou que quando atuava pelo Vitória, da Bahia, clube no qual iniciou sua carreira e para o qual retornou, ainda no auge, depois de jogar na Europa, foi aconselhado por Zagallo, então treinador da seleção a se transferir “ou para o Rio ou para São Paulo”. Segundo Bebeto, o técnico, multicampeão mundial, disse: “Eu preciso que você saia de Salvador para eu poder te convocar, para ter forças para te convocar”, o que fez com que o atacante saísse do Vitória de “coração partido”, em suas palavras, para poder jogar a Copa de 98.
Ademais, o Bahia foi o primeiro campeão brasileiro em 1959 e conquistou seu segundo título em 1988, o que nos faz refletir sobre a importância histórica e grandeza de um clube, que apesar disso, não é considerado parte do “G12”, o grupo com os chamados 12 maiores clubes do Brasil: Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco da Gama. A questão não é questionar a relevância desses times e sim, o tratamento dado a eles, pela mídia e pela própria CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que, na maioria das vezes, os enaltece e privilegia em detrimento dos clubes “menores” ou de outras regiões.
A atenção dada por Ancelotti para os nordestinos, com a convocação de Jean Lucas e o nome de Luciano Juba, lateral-esquerdo do Bahia, na pré-lista da seleção, pode ser um sinal do reconhecimento do trabalho dessas equipes e de um futuro promissor, mas que não deve ocorrer somente por parte da seleção brasileira. A mídia e os amantes de futebol precisam reconhecer e valorizar o trabalho das equipes pertencentes a essa região, que já revelou diversos craques e que está em constante evolução.
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