As declarações da ministra do Esporte, Ana Moser, foram mal recebidas pelos amantes dos jogos eletrônicos. Moser afirmou que os e-sports não são esportes e que não tinha intenção de investir no setor que, a seu ver, é uma indústria de entretenimento. Um dos críticos foi o streamer Casimiro Miguel, que classificou os comentários da ministra como grosseiros e grotescos.
“O jogo eletrônico não é imprevisível. Ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, ela é fechada, ela não é aberta, como o esporte”, declarou a ministra.
Pouco depois da fala polêmica, a ex-atleta defendeu uma “ação intersetorial” no ramo de jogos eletrônicos, destacando que o Ministério do Esporte tem outras prioridades.
O professor Ricardo Cabral, do Instituto de Educação Física e Desportos (IEFD) da Uerj, partilha da visão da ministra. “Para mim o esporte é uma atividade física, organizada de maneira formal ou informal, na qual os participantes são estimulados em sua prática por recompensas internas (motivação) e ou externas (incentivos)”. De acordo com Cabral, o esporte se traduz em movimentos específicos à modalidade que caracterizam a técnica esportiva, que é um dos componentes importantes para o desempenho. Assim, no E-sports, não existe uma técnica esportiva ou um gesto esportivo.
O professor também comentou sobre a questão da programação cibernética: “Acredito que ela [Ana Moser] quis dizer que o ‘esporte e seus praticantes’ não são programados. As ações esportivas dependem de situações nas quais as tomadas de decisões levam em consideração o contexto, e envolvem percepções cognitivas e motoras diferentes a cada vez realizadas.”
Mateus Costa, graduando em Filosofia e ex-integrante de uma equipe de eSports, discorda do posicionamento da nova administração federal. “Jogos já são tão esportes quanto qualquer um [esporte] físico como futebol ou basquete, mas entram no lado dos esportes intelectuais, como xadrez. Qualquer separação entre jogos on-line e outros esportes se dá apenas pelo hábito. Portanto, jogos on-line são esportes, com seu lado competitivo, tanto quanto lutas, tiro e corrida, que originalmente não eram nem entretenimento, podem ser.”
Costa também defendeu a aplicação de recursos públicos no setor. Segundo ele, é importante dar oportunidade para jovens e-esportistas realizarem seu sonho com estruturas e investimentos para promover tal possibilidade, assim como existem faculdades públicas e outros programas do governo. “Todo brasileiro deveria poder contar com o apoio do governo brasileiro para alcançar sua plenitude como parte da sociedade”, pontuou.
A Lei Geral do Esporte (PL 1153/2019) estabeleceu uma definição de esporte que exclui explicitamente os jogos eletrônicos. O primeiro parágrafo do primeiro artigo cita: “Entende-se por esporte toda forma de atividade predominantemente física que, de modo informal ou organizado, tenha por objetivo a prática de atividades recreativas, a promoção da saúde, o alto rendimento esportivo ou o entretenimento.” O eSports é definido no segundo parágrafo do quarto artigo: “Entende-se por desporto virtual a atividade que demanda exercício eminentemente intelectual e destreza, em que pessoas ou equipes disputam modalidade de jogo eletrônico com regras e prêmios predefinidos.” Proposto pela ONG Atletas pelo Brasil, o projeto de lei está aguardando avaliação do Senado.
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