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Foto do escritorGuilherme Leôncio

Especial: os trabalhos e os dias

Uerj recebe artistas para produzir e expor até março na galeria Cândido Portinari


Essa é a minha primeira impressão da exposição “Os Trabalhos e os Dias” que está acontecendo na galeria Cândido Portinari, gerida pela Coordenadoria de Exposições da Uerj (Coexpa).


Para essa exposição, foram convidados artistas com alguma ou nenhuma relação com a universidade, para produzir obras “ao vivo” para que o público possa presenciar o processo criativo de cada um deles. Essa ”exposição continuada” começou no início de janeiro e estará disponível a visitas até 9 de março, que é quando as peças devem ser finalizadas para a apreciação geral.



Quando entrei na galeria, fiquei meio em dúvida se tinha ido ao lugar certo porque tudo parecia muito “em andamento” ainda, o que geralmente não esperamos ver numa exposição; fomos acostumados a apreciar coisas prontas e bem explicadas. Esse será o desafio de quem visitar o espaço: entrar, observar, investigar e ter o privilégio de presenciar o processo criativo em primeira mão.


A ideia, a princípio, é contar como esse processo tem acontecido para os artistas, e mais para frente, na segunda parte desse especial, veremos a ponta final de toda experiência. Eu conversei com algumas artistas que estão produzindo na galeria e todos trazem propostas diferentes baseadas em suas próprias concepções de arte e expressão.



ARORÁ

Aluna de artes visuais na Uerj, a artista trabalha com esculturas, pinturas, desenhos e texturas naturais (terra, musgos etc.)


Arorá, qual a importância deste espaço para você? Fora daqui, tem algum lugar que você expõe seus trabalhos?

Tenho sim, mas também, é de muito importância fazer dentro da universidade. Eu entrei na Uerj em 2018 com 17 anos, sem nem saber o que era arte, muito menos visual. Aqui na Uerj eu pude descobrir mais sobre isso e sobre mim mesma, então, a Uerj foi a grande culpada por eu levar isso como profissão hoje. É muito bom poder devolver conhecimento que eu comecei a ter a partir daqui mesmo.


O que você pretende trazer para o público nesta exposição?

Eu tenho um fetiche conceitual de que minha casa é uma caverna, e eu comecei a procurar o sol da caverna. A ideia de ter é sempre complicada, nem sempre tem tema, o que existe é processo e pensamento que aglutina em cai em algum lugar. Mas atualmente eu tô obsessiva com quedas de água, suspense e possibilidade de algo suspenso.


Sem censura, se você pudesse descrever o seu trabalho em um palavra, qual seria?

Quedas, no sentido mais amplo possível.



ANA CLÁUDIA

A artista é ex-aluna da Escola de Design da Uerj (Esdi), na Lapa, e cursou a graduação de 2011 a 2018.


Quais são as formas de arte que você produz? Qual seu eixo temático?

Eu trabalho majoritariamente com pinturas, tenho uma pegada de paisagens abstratas. Exploro espaços por si só, gosto de trabalhar com a vista aérea e perceber como criar imagens abstratas a partir do ambiente que a gente vive.


Qual a importância desse espaço para você? Fora daqui, tem algum lugar que você expõe seus trabalhos?

Eu tenho um ateliê onde trabalho, mas eu acho que aqui é muito mais pela troca. Poder compartilhar, conversar com as pessoas e ter esse momento de diálogo é muito importante.


Vocês estão produzindo aqui enquanto as pessoas passam e olham. Você acha que produzir publicamente te intimida?

Me intimida, sim, com certeza. Eu sinto vergonha. Eu já tive duas experiências assim na minha vida de trabalhar com pessoas me olhando e eu acho que é um momento de muita demanda emocional em que eu me sinto muito exposta.


Sem censura, se você pudesse descrever o seu trabalho em um palavra, qual seria?

Movimento.



CLÁUDIA LÍRIO


Como é a sua relação com a universidade? Você é aluna, ex-aluna, professora?

Não. Eu cheguei até a começar uma especialização na Uerj sobre literatura brasileira, sobre o Mário de Andrade, e justamente na mesma época eu fiz prova para o mestrado na UFRJ e acabei passando. Então eu não sou ex-aluna. A minha relação com a Uerj, como você pode ver, é bem recente, mas eu tenho muitos amigos que estão por aqui.


Aqui é basicamente um exposição continuada na qual vocês produzem ao vivo. Como que está sendo essa experiência para você?

Pois é, nós todos aqui fomos convidados a enfrentar esse desafio. É como se nós estivéssemos no nosso próprio ateliê trabalhando normalmente, só que com plateia. É mais sobre o processo do que o produto.


O que você traz para o público? Qual seu eixo temático?

Meu trabalho é voltado para autoficção, meio ambiente e artes visuais. Mas aqui especificamente eu tô trabalhando com a palavra como ferramenta de formação da imagem, ela entra na sua fabulação e na sua materialidade e eu estou explorando isso. A discussão do trabalho é essa, o curso é entre a palavra e a imagem, porque muitas vezes a gente olha a palavra e ela parece que não tem significado, porém, ela é também algo gráfico, é um desenho. Dentro desse trabalho existem narrativas com personagens e uma dessas personagens sou eu, que vive na pandemia, naquele ambiente de fim do mundo e procurando por possibilidade de vida.


Você acha que produzir publicamente é intimidador?

É um pouco intimidador, sem dúvida nenhuma, mas eu cheguei aqui cedo, comecei a trabalhar e falei assim: ‘Vamos que vamos e simbora que a hora é agora!’ E essa estrutura que a gente tem aqui na Uerj é muito boa, por exemplo no meu ateliê eu não ia conseguir fazer essas telas duplas na parede, eu não teria o espaço para isso, aqui eu posso. E fora que produzir no ateliê às vezes é um pouco solitário, a gente sente falta do olhar do outro, da visão do outro.


Observando o trabalho dos seus colegas aqui na exposição, você consegue ver de outra forma sua própria arte?

Sim, consigo ver. A gente começa a repensar alternativas possíveis para o próprio trabalho. Por exemplo, essa interação com outros artistas me fez ter essa ideia de colocar aqui esse barbante onde não tinha essa foi uma solução que eu só pude ter aqui no meu atelier sozinha eu nunca iria pensar nisso.


Sem censura, se você pudesse descrever a artistas que você é em poucas palavras, quais seriam?

Experimentadora persistente.


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