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Entre quadras e salas de aula: o desafio de ser atleta universitário no Brasil

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • 2 de set.
  • 3 min de leitura

Vitória contra EUA na Universíade, evento organizado pela Federação Internacional do Desporto Universitário (Fisu), escancara a força do esporte universitário e gera reflexões quanto à falta de espaço que a prática ainda enfrenta no Brasil


Por: Ana Luiza Pereira


Reprodução: Rafael Muniz

Time feminino representando a Uerj nos Jogos Universitários de Comunicação e Artes (Jucs), realizados no município de Vassouras
Time feminino representando a Uerj nos Jogos Universitários de Comunicação e Artes (Jucs), realizados no município de Vassouras


Recentemente, o basquete universitário brasileiro escreveu uma história quase inacreditável: venceu os Estados Unidos na final da Universíade, o maior evento esportivo universitário do mundo. Para quem acompanha esporte, sabe o peso dessa vitória. Afinal, estamos falando do país que domina a modalidade há décadas e é sempre a seleção a ser batida. Apesar do feito histórico, o assunto mal apareceu nas manchetes e logo sumiu das redes. O esporte universitário continua sendo praticamente invisível por aqui, e isso diz muito sobre como tratamos o esporte quando ele escapa do eixo profissional.


Na faculdade, vejo de perto o quanto o esporte é subestimado. Quem escolhe competir precisa lidar com preconceito, falta de incentivo das instituições e dificuldade de conciliar treinos e aulas. No Brasil, diferentemente de outros países, o esporte universitário não é visto como espaço de formação nem de atletas, nem de pessoas.


Para entender melhor essa realidade, conversei com a aluna e atleta Julia Muniz, de 19 anos, aluna de Relações Públicas na Uerj e jogadora de vôlei. “Eu amo o esporte, principalmente o vôlei”, declarou sua paixão.



Reprodução: Arquivo pessoal de Julia Muniz

Julia Muniz exibe medalha e taça de campeã de voleibol do campeonato universitário AthletiCup, que acontece no Rio de Janeiro
Julia Muniz exibe medalha e taça de campeã de voleibol do campeonato universitário AthletiCup, que acontece no Rio de Janeiro


Julia conta que começou a treinar com a Atlética de Comunicação e Artes da Uerj (AACA) nas primeiras semanas de aula. Isso foi fundamental tanto para a construção de sua confiança quanto para sua adaptação à faculdade. Pouco tempo depois, ela se tornou coordenadora dos times de vôlei da Atlética, o que a desafiou ainda mais, pois passou a ocupar um cargo de liderança, característica que é, por sinal, muito valorizada no mercado de trabalho. Por ser tímida, estar em contato com tantas pessoas novas foi um grande aprendizado para ela, visto que, após seu engajamento com a AACA, Julia adquiriu mais facilidade em conversar e se relacionar com todos.


Sobre a desvalorização e os estigmas relacionados ao esporte universitário, ela comentou que o preconceito que as pessoas têm está mais direcionado às atléticas das universidades, porém sabe que existe uma espécie de preconceito velado aos estudantes que participam de um cenário mais atlético, o qual não envolve somente academicismos formais. Também diz que falta incentivo, pois boa parte da sociedade não dá valor ao esporte universitário. A desvalorização certamente não parte apenas das instituições.


A atleta também confessa que, dentro da rotina universitária, às vezes é difícil tirar um tempo para relaxar e não pensar muito, e que, então, ter a oportunidade de praticar um esporte que ela ama, ao lado de colegas incríveis, profissionais de altíssima qualidade e poder participar de campeonatos, a faz continuar praticando. De maneira geral, ser atleta universitária contribui tanto para sua vida acadêmica, tornando-a mais confiante e responsável, quanto para sua vida pessoal e, futuramente, profissional.



Reprodução: Rafael Muniz

Julia Muniz competindo nos Jogos Universitários de Comunicação e Artes, em junho de 2025
Julia Muniz competindo nos Jogos Universitários de Comunicação e Artes, em junho de 2025


Ouvir a Julia me fez pensar: por que ainda insistimos em tratar o esporte universitário de forma tão depreciativa? Não é só sobre competir, mas sobre formar redes, criar identidades e até abrir portas profissionais. Se o Brasil quer se ver como potência esportiva, é preciso dar espaço e voz a quem está no ambiente universitário, que é tão rico e diverso, cheio de talentos ignorados devido à invisibilidade e à falta de investimento.


Talvez a vitória histórica contra os EUA na Universíade seja um ponto de virada, mas talvez passe despercebida, como tantas outras histórias que mereciam reconhecimento. Porém, uma coisa é certa: ignorar o esporte universitário é ignorar uma parte fundamental da juventude brasileira.


Hoje, vivendo a rotina de estudante e observando amigos que se desdobram entre sala de aula e quadra, não consigo aceitar que continuemos olhando para isso com tanta indiferença. O esporte, como expressão da cultura de um povo, é reflexo da nossa sociedade e exerce um papel fundamental no entendimento da mesma. Ignorar o esporte universitário é ignorar, não só possíveis campeões, mas também jovens que encontram nele um espaço de acolhimento, crescimento e identidade.


Que vejamos logo grandes atletas provenientes da Uerj.


1 comentário


amandagomes554
02 de set.

Parabéns pela matéria e pela visibilidade do tema

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