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Do mar à Uerj: saiba a história da baleia que nomeia espaço para eventos da universidade

Atualizado: 17 de jun.

Nome inusitado foi fruto de experiência de antiga graduanda e hoje professora do curso de Zoologia 


Por Richard Gabriel    Redator: Davi Guedes


                                                             Foto: Lena Geise

                                     Baleia sendo analisada antes de ser enterrada


Desde o início do semestre de 2024.1, o corpo discente da Uerj ganhou um novo espaço para eventos: a Baleia. O local - que é um estacionamento localizado atrás do teatro Odylo Costa, filho - tem causado burburinho devido ao seu nome nada convencional que se relaciona com evento ocorrido há décadas: o enterro de uma baleia nesse espaço do Campus Maracanã. 


Lena Geise, professora do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da Uerj, fez parte do processo do enterro da baleia como aluna de ciências biológicas na época. A baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) era um macho jovem que foi encontrado morto e encalhado em Sepetiba e chegou à Uerj em dezembro de 1985 através de um projeto de coleta de cetáceos - infraordem de animais predominantemente marinhos da classe dos mamíferos - encalhados, organizado pela aluna.


Antes de a baleia chegar à Uerj, uma outra foi enterrada no aterro sanitário de Gramacho, mas o local acabou não sendo apropriado por se tratar de um lixão, e os ossos da baleia, ficaram parcialmente deteriorados. Quando foi encontrada uma segunda baleia, menor que a primeira, foi decidido trazê-la para a universidade com a ajuda da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), que inclusive cedeu uma pá escavadeira para o enterro do animal.


Lena lembra que chegou a imprimir vários cartazes por todo o litoral do Estado do Rio de Janeiro solicitando ajuda na identificação desses animais. “Eu tinha um fusca branco e com ele a gente saía pelo litoral percorrendo as praias e distribuindo panfletos pedindo para que, caso alguém encontrasse um cetáceo encalhado, entrasse em contato. Se fosse um golfinho, eu trazia no meu fusca, já baleias a gente ligava para Comlurb e eles recolhiam.” Foi através desses contatos que a baleia, chegou até Lena.


Segundo a professora, a baleia não foi o único animal enterrado no terreno do campus. Diversos cetáceos passaram pelo mesmo processo da baleia, como golfinhos e botos. Porém, a baleia foi a única que permaneceu enterrada. “Eu enterrei muitos nos estacionamentos e na parte de trás do Haroldinho, onde os espaços eram demarcados, para não ficar peso em cima. Na época, esses locais não tinham calçamento, era  matagal e a gente enterrava os bichos lá, e depois de alguns meses, retirava.” 


Todo o material, segundo Lena, era catalogado, registrado e enviado ao Museu Nacional como material científico.  Por volta de 4 a 6 golfinhos foram enterrados no espaço. Na época, a universidade era muito voltada à formação de licenciados e professores e não a tantas pesquisas. Ela conta que, por a faculdade não ter um professor que trabalhasse com mamíferos, o seu orientador era do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), localizado em Manaus e que recebia as orientações através de cartas e/ou telefonemas. “A gente acabava sendo meio autodidata nesse trabalho, não existiam laboratórios de mamíferos, então tínhamos apenas um professor que assinou como responsável pelo projeto e, além de mim, havia outras duas alunas da minha turma de graduação, além do apoio de alguns técnicos e dos meninos da minha turma.”


Todo o processo possuía a autorização do Instituto de Biologia e da reitoria da universidade. Antes de enterrar o animal era feita uma biópsia para tentar identificar a causa da morte, assim como uma coleta de amostra de tecidos para enviar ao Museu Nacional. No entanto, a baleia nunca foi desenterrada. Isso porque, ainda no ano de 1985, Lena se formou na graduação e mudou-se para São Paulo, onde fez seu mestrado na USP. “Em algum momento eu lembrei que tinha que desenterrar mas não me lembro exatamente por que  eu não consegui. Não sei se eu não tive autorização ou se não deu tempo, mas alguma coisa aconteceu e ela permaneceu ali.” 


Anos depois, quando retornou ao Rio para fazer seu doutorado, Lena tentou novamente desenterrar a baleia, sem sucesso. Acabou desistindo, por acreditar que já teria virado pó, devido ao longo tempo no solo e ao fato de os ossos de baleia se desintegrarem muito rapidamente. Em 1996, quando retornou à Uerj, desta vez como professora, a história novamente veio à tona. “Contaram-me que o espaço tinha se tornado o estacionamento da baleia e tinha até uma placa pintada à mão dizendo, mas era muito pouco usado. Depois de alguns anos, o espaço foi asfaltado e a placa retirada, com isso ideia de algum dia desenterrar a baleia acabou e aos poucos a história foi sendo esquecida.”


Isso deu vazão para que outras histórias surgissem, como a que afirma ser da baleia de 1985 a mandíbula existente em um dos andares do prédio principal do campus, o que não é verdade. A peça pertence à faculdade de Oceanografia.


A história do enterro ressurgiu através dos alunos de Lena, que recentemente postaram fotos do enterro nas redes sociais. Para a professora, o ressurgimento dessa história é bem-vindo, na medida em que resgata aspectos de sua experiência acadêmica que impactou o cotidiano do campus. A baleia faz parte da história da universidade. “Com a redescoberta da história, surge a possibilidade do retorno da placa sinalizando e oficializando o local como Baleia e, quem sabe, até colocando uma foto do animal que deu origem ao nome do espaço.”

Foto: Lena Geise

                                                  Escavadeira enterrando a baleia 

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