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Crítica aos comentaristas “engraçadinhos” vira tema na 1° Semana Nacional de Jornalismo

Atualizado: 16 de abr. de 2023


Foto: Beatriz Ribeiro


Por Ana Clara Zangrando


Na 5° mesa de debate na ABI foram discutidos temas polêmicos. Entre eles, estavam a necessidade de apuração, a relação entre jornalismo e entretenimento e o lado comercial do esportivo. Além disso, contou com a presença de grandes nomes da área: Afonsinho, Dudu Monsanto, José Trajano, Lúcio de Castro, Márcio Guerra, Tadeu Aguiar e Vanessa Riche foram debatedores com a mediação de Geraldo Mainenti. O objetivo da mesa foi desmembrar algumas questões que vêm atravessando o jornalismo esportivo nos últimos tempos.


O primeiro tema abordado na mesa foi a invasão dos “boleiros” no ambiente esportivo e quais seriam os impactos disso na profissão do jornalista. “Boleiros” é o termo usado para se referir aos ex-jogadores que comentam sobre futebol, ocupando a posição de jornalista. Afonsinho, ex-jogador de futebol, foi um dos que passaram a ser comentaristas após a carreira de jogador.


A “invasão” é extremamente prejudicial, não apenas para o jornalista, que perde espaço no mercado, mas para o jornalismo em si, que compromete sua credibilidade quando pessoas desqualificadas ocupam espaços. Uma das convidadas que concordam com essa questão é a Vanessa Riche, jornalista com passagens por SporTV e FOX Sports, que acredita que a negligência da apuração e o plágio dos conteúdos jornalísticos são fatores que contribuem para a presença de “boleiros” nos programas.


Acontece que alguns portais de notícias não levam a apuração a sério, então muitos acabam copiando e colando textos de outros para economizar tempo e dinheiro. Isso prejudica a função do jornalista de apurar e levar informação credível ao público, e a consequência disso é a possibilidade de qualquer um poder fazer qualquer coisa no jornalismo. José Trajano destacou o perigo que são os profissionais desqualificados, pois sem uma formação acadêmica, não há profissionalismo. Além disso, muitos estudantes têm como exemplo pessoas como essas, que fazem entretenimento devido à popularidade que ganharam, o que prejudica a imagem do curso.


A mesa também questionou a existência de uma tríade de fatores que encaminham o jornalismo ao entretenimento. Primeiramente, os chamados "engraçadinhos", aqueles que atuam como humoristas, tecendo comentários descontraídos a fim de entreter o público, afastado da informação; os ex-jogadores, que atuam nas equipes como “comentaristas de esporte”, muitas vezes opinando sem fundamento algum e, novamente, falhando na entrega de informação ao público; por fim, mas não menos importante, os influencers, que estão ocupando espaço nos programas para atrair seguidores ao consumo da programação produzida por determinado veículo, além de trazer a recompensa em forma de propagandas.


Em relação a isso, o jornalismo vem, nos últimos tempos, comprometendo sua credibilidade em benefício do comercial. A tríade presente no esporte é um reflexo de como o jornalismo se misturou com o entretenimento pela audiência e, consequentemente, a publicidade. Isso gerou o que Vanessa e Trajano comentaram sobre a presença de pessoas sem formação e plágio. É feito um investimento muito grande no profissionalismo e na apuração de notícias que vem caindo em desuso, e para o lado comercial não vale a pena.


A falta de apuração dos conteúdos jornalísticos produzidos atualmente foi uma pauta que abriu margem para diversas interpretações. A apuração é o que qualifica um conteúdo jornalístico, é uma investigação detalhada. Lúcio de Castro, um dos convidados da mesa, explicou que o jornalismo esportivo perde seu caráter investigativo para economizar na apuração, já que basta copiar e colar. Sobre esse mesmo assunto, Dudu Monsanto declarou que “o lado comercial interfere e atrapalha o fazer jornalístico”.


A interferência comercial, tanto no jornalismo esportivo, quanto no esporte em si, ganhou destaque no debate, uma vez que a publicidade gera um retorno financeiro muito alto, e, por isso, muitos acham que vale a pena deixar uma investigação, opinião política ou posicionamentos de lado para não comprometer patrocínios.


A questão final é que, a partir do momento em que o jornalismo se funde ao comercial e ao entretenimento, a credibilidade da área é afetada, assim como os valores e as funções do profissional são jogadas para escanteio. A função do repórter, tanto esportivo quanto de outro nicho, é a apuração e a pesquisa para um jornalismo verdadeiramente informativo. Quando a apuração é negligenciada, o repórter é substituído por qualquer engraçadinho. A mesa da ABI reafirmou durante toda a palestra a necessidade da capacitação, apuração e competência para um jornalismo informativo, e não de entretenimento.

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