Crescimento das bets ameaça credibilidade do futebol brasileiro
- Comunica Uerj
- 8 de mai.
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Indiciamento de Bruno Henrique pela Polícia Federal reacende discussões sobre apostas no futebol nacional.
Por: João Pedro Serafim Alves
Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O atacante do Flamengo Bruno Henrique foi indiciado pela Polícia Federal na segunda-feira (14) sob a acusação de ter forçado um cartão amarelo em jogo contra o Santos em 2023, beneficiando familiares e amigos. Esse caso é mais um golpe na credibilidade do nosso esporte. O futebol brasileiro vive um momento de desconfiança, no qual investigações revelam o submundo das apostas esportivas, que movimentam bilhões de reais, patrocinam clubes brasileiros e, infelizmente, abrem brechas para esquemas de manipulação.
O mercado das bets é uma significativa fonte de receitas. Segundo dados do Banco Central, os brasileiros de janeiro a agosto de 2024 gastaram cerca de R$ 20 bilhões em apostas. Esse número já foi ultrapassado nos primeiros três meses de 2025, em que os apostadores gastaram R$ 30 bilhões em bets, tornando o Brasil o terceiro maior mercado global. Esses números tendem a crescer ainda mais devido ao alto investimento que as casas têm feito nos mais diversos setores do entretenimento. Como exemplo disso, todos os 20 clubes da Série A do Brasileirão 2025 são patrocinados por bets, e por isso, exibem seus logos nos uniformes. A forte presença publicitária em emissoras de TV aberta, em mídias digitais, como plataformas de streaming e redes sociais e em arenas esportivas, também consolidam as bets como um dos maiores anunciantes do país.
O caso Bruno Henrique, apesar de envolver lucros “modestos” de R$ 700 e R$ 2,5 mil por indivíduo, mostra como até jogadores de grandes clubes brasileiros com salários milionários podem ser cooptados por esquemas. A investigação, iniciada em agosto de 2024 após alertas de Betano, Galera Bet e KTO, levou seis meses para indiciá-lo, em fevereiro de 2025. Agora, ele enfrenta risco de suspensão de 360 a 720 dias e até mesmo banimento do futebol.
Entretanto, devemos lembrar que esses casos de manipulação de resultados não são novos. Em 2023, a “Operação Penalidade Máxima” do Ministério Público de Goiás (MP-GO) descobriu a existência de um grupo criminoso, que aliciava jogadores para manipular resultados. Os alvos das manipulações? Mercados de apostas permitidos pela Lei 13.756/2018: resultados, placares, cartões, escanteios e pênaltis. Essa operação do MP-GO revelou o envolvimento de vários jogadores, como Alef Manga e Nino Paraíba. No entanto, dos 22 jogadores denunciados, apenas cinco foram banidos: Romário (Vila Nova), Gabriel Tota (Juventude) e Ygor Catatau (Sampaio Corrêa). Enquanto outros, como Eduardo Bauermann (ex-Santos) e Igor Cariús (Sport), receberam punições mais brandas como suspensões de 360 a 720 dias e multas que variavam de R$ 100 a R$ 100 mil, inclusive, ambos já voltaram à atividade.
O caso Bruno Henrique é mais um alerta para as autoridades. Sobretudo diante da defesa do jogador, que alega que a Betano, patrocinadora do Atlético Mineiro, denunciou o atleta para prejudicar o Flamengo na decisão da Copa do Brasil entre os dois clubes. Essa afirmação abre perigosos precedentes para que todos os jogadores indiciados contestem as denúncias alegando parcialidade e clubismo por parte da acusação, descredibilizando as investigações.
Diante desse crescimento das apostas esportivas, a CBF, junto à Sportradar e à International Betting Integrity Association, precisam intensificar seu monitoramento. A colaboração entre elas é fundamental para identificar padrões suspeitos e agir rapidamente. Além disso, deve-se limitar a presença das bets no esporte, criando leis que coíbam a propaganda e patrocínio dessas casas, impedir que elas aceitem tipos de apostas simples e fazer campanhas de conscientização para que o público não acredite em falsas promessas de ganhos fáceis.
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