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Cantinhos da Uerj e a arte do improviso na busca por um cochilo revigorante

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • 23 de set.
  • 3 min de leitura

Na correria do dia a dia, descansar é preciso. Quando o sono da tarde bate à porta, a criatividade é um recurso transformador de espaços


Por: Carlos Roberto Alves



Não tem como fugir de uma sonequinha após o bandejão. O caminho é abraçar o sono e dormir. Questionado sobre a importância do descanso da tarde, Carlos Eduardo (mais conhecido como Cadu), estudante de Relações Públicas, declarou seu respeito ao sagrado cochilo da tarde e, minutos depois, dormiu. A semiótica presente na abordagem do tema revela muitas camadas, as quais passam despercebidas em meio a longa e estressante jornada de trabalhos e de estudos. Com toda a calma e paz de espírito, Cadu se deita no banco do hall, o lugar mais estranho em que já dormiu, segundo ele, cobrindo o rosto com uma manta, protegendo-se da luz, e utilizando uma mochila como travesseiro. Um ritual que revela o zelo pela atividade mais importante do dia, unindo a arte do improviso e reconfigurando o espaço no seu “cantinho do descanso”, a famosa sesta



Foto: reprodução/ Carlos Roberto Alves

Foto: reprodução/ Carlos Roberto Alves
Foto: reprodução/ Carlos Roberto Alves

O ato de “abraçar o sono” no período da tarde muitas vezes é confundido com preguiça, mas, na verdade, é um hábito cultural milenar, além de uma necessidade do corpo humano de trabalhar o processo de digestão. Dessa forma, o fluxo sanguíneo é desviado para o estômago, moderando a capacidade de sangue em outras áreas como o cérebro e os músculos. É o que destaca a consultora e especialista em sono Renata Federighi. O aumento da disposição, a diminuição do cansaço e a melhora no desempenho cognitivo são efeitos que parecem mágicos, mas é a necessidade fisiológica de recarregar as energias para o restante do dia. Quando isso nos foi tirado? Quem passou pela “hora do soninho” na creche sente saudades de uma pausa revigorante antes de retornar às traquinagens na sala, à flor do período crítico cognitivo. A criança ainda precisa de mais tempo de descanso, em média duas horas, de acordo com a especialista.


Como estudante universitário, entender a dinâmica do sono passa pela observação da própria rotina. E também da comunidade. Passando pelas escadas que dão acesso ao bandejão, é comum vermos os funcionários do restaurante descansando naqueles banquinhos durante o intervalo do trabalho. Rômulo é um daqueles que não dispensa o cochilo: até no papelão está valendo. Para quem está na correria, há uma necessidade de compensar as horas cortadas pelo despertador bem no início da manhã e pelo tempo gasto no deslocamento. Seu “cantinho” da soneca é uma base de concreto, na qual se deita utilizando papelão para ter um pouco mais de conforto e se recuperar para as próximas cinco, até mesmo seis horas de trabalho. Ele acrescenta que deveria ter mais bancos ou redes para repousar. Assim como Cadu também frisou, uma rede seria ideal. Convenhamos, é muito mais confortável que o banco. Talvez o problema maior seria a coragem para se levantar porque ela peca pelo excesso de conforto, uma vez que estimula um ciclo maior de descanso, auxiliando na descompressão da coluna. Ficar algumas horas sentado nas cadeiras de salas, laboratórios e auditórios, além dos assentos do transporte público, são atividades que comprimem a coluna, portanto, deitar-se em berço esplêndido pode gerar um sono profundo.


Antes de encarar com estranheza, repulsa ou culpa o estado de sonolência na parte da tarde, saiba que seu corpo clama por um pequeno breque nas ações do agitado dia, e o processamento das ações e das ideias refletem passam por esse momento. A sesta é uma cultura que nos foi retirada, em algumas ocasiões substituída por outras atividades, e isso se deve à jornada de trabalho extenuante e à péssima mobilidade urbana. O agravante é o uso de estimulantes como cafeína, taurina e remédios para cortar o sono e continuar ativo e produtivo, porque o importante é não perder o foco. Enquanto isso, nossos corpos vão ficando cada vez mais doentes.


Encontrar um cantinho de descanso é um nobre exercício de autocuidado e de respeito, desde que realizado com certa parcimônia. Na movimentada Uerj, é preciso ter uma dose de criatividade para remontar a grade da “hora do soninho”. Do banco ao bloco de concreto, até mesmo em cima de um skate, o improviso é a chave para encontrar um pouco de sossego.



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