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Brasil botando banca

Febre no país, as apostas on-line têm transformado patrocínios no mundo esportivo e a relação dos torcedores com os jogos


Por Camille Mello          Redator: Nuno Melo


Foto: Freepik

A facilidade de acesso às casas de apostas virtuais parece ser o fator decisivo para o sucesso do jogo.


As chamadas bets estão por todo lugar. Para onde quer que você olhe, seja em outdoors nas ruas, nas redes sociais, na televisão e até na parte traseira de assentos de ônibus há anúncios de algumas das centenas de empresas de apostas on-line que atuam hoje no Brasil. A publicidade massiva é um indício da expansão do mercado, que faturou cerca de R$ 54 bilhões no país em 2023, estimativa feita pela Folha de S. Paulo com base em estatísticas do Banco Central. A cifra supera os rendimentos gerados pelas exportações brasileiras de carne bovina no ano passado. 


Além de lucros vultuosos, as marcas de bets estão conquistando cada vez mais espaço nos patrocínios esportivos. Na Série A do Brasileirão 2024, essa realidade se concretiza de forma expressiva: 19 dos 20 times estampam em suas camisas marcas de casas de apostas — em 15 deles, essas empresas figuram como patrocinadoras máster, detentoras do chamado espaço nobre do uniforme. Assim como no ano anterior, o Cuiabá Esporte Clube é a única equipe que não possui acordo comercial com representantes do setor. Até mesmo o Campeonato Brasileiro teve os direitos comprados pela Betano, empresa com sede em Malta que já era patrocinadora da Série B do torneio e da Copa do Brasil. Outras modalidades como o vôlei, o basquete, o tênis e o MMA também não escaparam da tendência.


Foto: Divulgação Betfair e Vasco 

Recém-lançado, patrocínio da casa de apostas Betfair é o maior da história do Vasco da Gama.



O antigo costume de fazer uma fezinha hoje virou sinônimo de fazer uma bet, termo em inglês que, diferentemente de sua tradução literal, “aposta”, não carrega a possível conotação negativa de jogo de azar, categoria que enquadra práticas como bingos, caça-níqueis e o jogo do bicho. Enquanto este último continua proibido no Brasil pela Lei das Contravenções Penais, as apostas esportivas foram legalizadas em 2018, e estão passando agora pelo processo de regulamentação. Embora as duas práticas guardem similaridades, a principal diferença entre elas é a previsibilidade do resultado. Ao contrário do que ocorre nos jogos de azar, em que o ganho ou perda dependem exclusivamente da sorte, supõe-se que, nas apostas esportivas, o jogador pode se valer de suas habilidades de análise de dados, estatísticas e seu conhecimento sobre as equipes para ser bem-sucedido.


Foto:Freepik



Uma das principais consequências das bets é a transformação da experiência do torcedor. 


O fato é que a nova modalidade virtual, que promete recompensas instantâneas em dinheiro a quem acertar palpites sobre os mais diversos aspectos de uma partida esportiva — desde a  equipe vencedora à quantidade de cartões amarelos — tornou-se uma febre entre os brasileiros. Segundo uma pesquisa feita pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o Datafolha, 22 milhões de pessoas fizeram ao menos uma bet em 2023, número que representa 14% da população. De acordo com o relatório divulgado no fim de abril, a maior parte dos usuários dessas plataformas são jovens com 16 a 27 anos, pessoas do gênero masculino e pertencentes a classes mais altas. No entanto, uma outra pesquisa publicada pelo Datafolha em janeiro revelou que 17% dos que recebem o Bolsa Família gastam parte do benefício para apostar. Segundo o levantamento, o gasto médio mensal entre o total de pessoas que apostaram no ano passado foi de R$ 263, o equivalente a 20% do salário mínimo vigente na época.


A facilidade de acesso às casas de apostas virtuais parece ser o fator decisivo para o sucesso do jogo. Hoje, é possível dar um palpite valioso em qualquer lugar, basta ter um celular ou computador conectado à internet. Com isso, a emoção de acompanhar uma partida de futebol, por exemplo, se combina à expectativa do potencial lucro ou prejuízo — ou seja, a paixão pelo time do coração já não é mais o único fator em jogo. Conforme mostrou o levantamento da Anbima, a motivação de 40% dos apostadores é aumentar a renda em um momento de necessidade. Já 26% dos “beteiros” citaram a diversão e 25% a emoção de apostar. 


Na pesquisa Brazilian Player: o mercado de apostas esportivas no Brasil, divulgada pela Globo em 2021, um terço dos usuários apostava para se conectar com amigos, o que demonstra um caráter social das bets. Por outro lado, as denúncias de esquemas de manipulação de resultados que envolvem as apostas esportivas podem representar uma ameaça significativa à integridade dos esportes, minando a confiança dos torcedores no fair play. É cedo para qualificar como positivos ou negativos os efeitos do fenômeno das apostas virtuais sobre o mundo esportivo, dado que o processo de regulamentação desse sistema e a CPI da Manipulação de Resultados e Apostas Esportivas, que investiga as supostas fraudes em partidas de futebol, ainda estão em andamento. O certo é que a revolução está em curso, com as bets colocando tanta coisa em jogo.



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