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  • Foto do escritorComunica Uerj

Baixo índice de leitura dos estudantes universitários preocupa professores

Era digital e método de ensino pouco efetivo podem estar relacionados


Por Bernardo Cunha           Redatora: Sofia Molinaro


“Eu indico um texto de 20 e poucas páginas, dou o prazo de 2 semanas para os estudantes lerem. Quando chega a aula, muitos faltam e os que aparecem não leram nada. Dou aula desde 2013 e nunca vi isso”. Essa fala foi publicada na rede social X, pelo professor universitário de filosofia do Ceará Mateus Vinicius Barros Uchôa (@mateusuchoa_). Em duas semanas, o post contava com 18 mil curtidas e desencadeou uma discussão sobre um suposto declínio no compromisso dos estudantes com a leitura dos textos passados em aulas das universidades. Esse cenário cria uma preocupação de como os alunos irão ter uma boa formação se não se dedicarem mais à leitura acadêmica.


 Foto: X/Twitter

Publicação do professor Mateus Uchôa (@mateusuchoa_) sobre o declínio da leitura no ambiente universitário


O professor Affonso Henriques Nunes, da Faculdade de Comunicação da Uerj, em entrevista ao COMUNICA Uerj, ressalta a importância da leitura na aquisição de conhecimento: “A forma de se aprofundar é ler. Não tem outra.” Ele acredita que um dos motivos para o declínio da leitura dos alunos se relaciona com a época da cultura do vídeo que vivemos e por acharmos que é possível aprender um grande volume de informações de forma rápida. A leitura teria perdido parte do seu espaço para essas outras ofertas de consumo. Ele aponta que mesmo com a existência de bons conteúdos em vídeo disponíveis, eles não substituem a leitura. Por requerer um maior esforço, a leitura permite maior reflexão, enquanto que o ato de assistir a vídeo é uma atividade muito mais passiva e, portanto, efêmera. “Não dá para se aprofundar vendo vídeo ou ouvindo podcast.”


O problema destacado na publicação de Uchôa aponta para um cenário de declínio quando diz que há 10 anos ele não observava isso acontecer com tanta intensidade. Nunes acredita que, quanto mais oferta de estímulos, principalmente pela internet, maior é a evasão da leitura tradicional. Isso, porém, não seria um sintoma geracional presente somente nos jovens, porque acomete todas as faixas etárias que vivem nesta era digital.


Nunes diz que, em sua trajetória como professor, costumava passar textos de apoio opcionais em suas aulas. Porém, depois de um tempo percebeu que os alunos, em sua maioria, não pareciam ler esses textos e deixou de passá-los. Ele acredita que isso não é um problema das universidades, apenas um reflexo da sociedade como um todo. No entanto, dentro do meio universitário, isso pode reduzir a qualidade da formação dos discentes. “Isso vai fazer com que a formação delas seja prejudicada, incompleta.”


Motivos da pouca leitura podem ter outra origem


Os alunos Ana Luiza Morena (18) e Bernardo Araújo (18), do primeiro período de relações internacionais da Uerj, afirmam não ler tudo que é passado pelos professores. Como justificativa, explicam que, além da grande quantidade de material, muitas vezes são de difícil compreensão. A aluna do quinto período de letras Jaynemim Costa (19) também aponta a quantidade e complexidade dos textos, porém ressalta que parte da responsabilidade é sua por falta de organização em relação às disciplinas.


O professor Gustavo Bernardo Krause, ao ser entrevistado pelo COMUNICA, afirmou que nenhum problema na educação tem um ângulo só. Krause, que é professor universitário desde 1978 e atualmente editor-executivo da EdUerj, editora universitária, acredita que existem várias perspectivas a serem consideradas. Uma das causas para a pouca adesão da leitura seria a forma como os materiais são passados e trabalhados pelos professores. Ele afirma que muitos educadores, tanto no ensino médio quanto nas universidades, não conversam entre si para propor um planejamento viável e coeso para as aulas. Cada docente obriga a ler um extenso volume de textos que se acumulam. Muito do que é passado em sala de aula não teria uma utilidade evidente na vida profissional do aluno. Além disso, na própria vida acadêmica, percebe que muitas vezes não é necessário ler para realizar as avaliações. 


Segundo Krause, parte de uma possível solução viria de uma adaptação de seus métodos de aula. Em vez de somente passar várias leituras para casa, poderiam trabalhá-las em conjunto e propor desafios relacionados. Ele defende que apenas passar o material didático para casa e obrigar a ler é quase certo que não resultará na sua leitura. Além disso, ele próprio afirma que altera seu plano de aula de acordo com a resposta da turma ao longo do semestre, que vem como consequência do trabalho colaborativo com os alunos. 


O professor Nunes também ressalta que esses fatores são relevantes quando pensamos na pouca leitura estudantil. Ele diz que a qualidade deve ser mais importante que a quantidade. Segundo ele, os professores devem compreender que muitas vezes ler menos, porém com mais profundidade, é melhor do que passar um grande volume de textos, não acompanhar a leitura e acreditar que seu trabalho está feito.


Foto: Portal Rede Sirius - Bibliotecas da Uerj 

Biblioteca da de Comunicação, Educação, Psicologia e Nutrição da Uerj

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1 Kommentar


Felipe
Felipe
20. Mai

Infelizmente com o avança da tecnologia, a leitura ser tornou algo mais enjoativo para algumas pessoas, principalmente agora que temos IA que são capazes de ler o texto pela gente(tudo que a gente precisa fazer é ouvir)

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