Baile da Uerj e representação feminina na cena do rap nacional

Como a rapper Budah e outras artistas estão mudando a cena do ritmo no Brasil

Por: Rayane Barreto

Reprodução: Rayane Barreto

Por muito tempo, a cena do rap brasileiro foi marcada por vozes predominantemente masculinas, em um território onde a narrativa das ruas e das periferias tinha gênero quase definido. As mulheres até estavam lá, mas quase sempre em papéis secundários, como backing vocal, em posições sexualizadas ou sob a sombra de nomes masculinos mais consagrados. Hoje, a cena começa a mudar, e o protagonismo feminino no rap nacional já não é algo distante, e, sim, uma realidade.

Artistas como Flora Matos, Karol Conká e Negra Li abriram caminho para que uma nova geração chegasse com mais confiança e espaço. Agora, nomes como Budah, MC Luanna, Duquesa e Tasha & Tracie não apenas ocupam o espaço, elas o expandem. Rimam sobre afeto, sexo, ancestralidade, luta política e autoestima sem pedir autorização. E por que pediriam? O rap, afinal, sempre foi compromisso com a verdade, e essa é a delas.

Essa mudança não é apenas estética, mas estrutural. O aumento da presença feminina no rap também estimula a produção e a organização de eventos com curadorias mais diversas e com maior participação de mulheres. Um caso atual dessa transformação é o Baile da Uerj, que, por dois anos consecutivos, apresentou duas rappers, Duquesa e Budah, em sua line-up. Neste ano, Budah teve um destaque tão grande que talvez tenha até superado o próprio headliner.

O evento, que já virou tradição entre os universitários cariocas, tomou o Terreirão do Samba no dia 16 de agosto. A line-up é composta por Major RD, Leall e Budah como atrações principais, além de DJs que animarão a noite inteira.

O que vemos hoje é um rap brasileiro mais plural, mais honesto com a sua própria diversidade. Porque, no fim das contas, contar a história das ruas sem ouvir quem também as vive é como rimar um verso pela metade. E as mulheres do rap já provaram: elas não estão aqui para completar rimas alheias, estão aqui para escrever as suas.