Foto: traffic light tree - Flickr
Por Yasmim Cavalcanti
Caminhando para comprar, no mercado, pão de forma e mais alguns itens necessários, paro no sinal e me deparo com uma senhora que parecia discutir com um rapaz de bicicleta, o qual também queria passar naquele sinal. Ele deveria ser um entregador com pressa. Não sei se ela o conhecia, mas a discussão estava calorosa e cômica ao mesmo tempo.
O sinal estava aberto para os carros e fechado para os pedestres. Até aí tudo bem e normal. Todos entendem. Mas na perspectiva daquela mulher, não era tão simples. Ela queria impedir o tal rapaz de avançar e explicava o seguinte: quando está vermelho para a gente, está aberto para os carros. E ele disse o contrário: quando está verde para a gente, é que está aberto para os carros. Até minha cabeça deu um nó e às vezes acho graça disso sozinha.
A confusão foi o referencial que eles tomaram. A senhora se referia ao sinal para pedestres, aquele que tem uma mãozinha vermelha quando indica que está fechado e um bonequinho verde quando abre para passarmos. Já o entregador se referia ao semáforo de trânsito, o sinal clássico para os automóveis, e, realmente, se aquele aparece verde, está aberto para os carros e fechado para a gente. Os dois chegaram à mesma resposta, entretanto por vias diferentes.
Os dois pararam com esse debate quando ele desistiu e foi pelo mesmo lado da calçada. E num calor com sensação térmica de mais de quarenta graus (olha aí as mudanças climáticas, mas deixa para uma próxima discussão porque senão vamos passar mais tempo falando que essa própria senhora), ela continuou com a tentativa de estender sua fala para comigo, mas também fui embora porque finalmente os carros pararam. Lá se foi um monólogo.
Isso de perspectiva e ponto de vista não foi tão engraçado quando um carro avançou o sinal e bateu no carro do meu primo, no qual se encontravam minha mãe, minha tia, meu primo de segundo grau e eu mesma. Menos mal que foi só um susto, apenas. Pelo visto, o outro motorista que ficou com a porta amassada avançou o cruzamento sob a justificativa de que estava aberto para ele. Eu vi claramente que nossa mão na via é que estava verde (no semáforo de trânsito). O guarda pareceu não perceber quem estava certo e simplesmente deixou a situação de lado, só pediu para a gente não atrapalhar o trânsito, já caótico. Será que ele, o outro motorista, também se guiou por outro referencial e não nos contou? Bem, o carro do meu familiar na oficina realmente não quer saber dessa justificativa, só do conserto (a frente ficou bem danificada). Pelo menos os dois têm seguro.
Assim como no trânsito, em quantas discussões não chegamos a lugar nenhum por simplesmente não entender o que o outro está falando? Não me referiro a opiniões desrespeitosas ou que ferem os direitos humanos. Porque preconceito não é questão de opinião, que fique bem claro isso! Mas podemos até dar o exemplo de debates políticos, que envolvem a tomada de decisão para o coletivo, e quem está lá não consegue nos atender porque simplesmente só quer vencer a discussão e não realmente debater, entender os lados envolvidos e solucionar. Que a gente amplie nossa perspectiva e não se limite a pensar nesse exemplo somente no trânsito.
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