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A pressa é inimiga do tempo


Foto: Internet


Por Giovanna Guitarrari


Hoje eu estava no ônibus indo para o trabalho, como sempre lotado ao ponto de ser quase insuportável, típico de oito horas da manhã, faltavam apenas dois pontos para a minha descida no Centro da cidade maravilhosa quando vi a escola. Era a hora de entrada das crianças, algumas estavam chorando por se despedirem dos pais, agarrando as mãos como se a vida dependesse disso, outras, com sorriso no rosto procurando os amigos, entravam correndo e nem olhavam para trás. Lembro vagamente dessa minha época, se é que posso chamar de minha já que era muito pequena para recordar de fato das coisas, os doces comidos no Dia de São Cosme e Damião, os desenhos sem sentido que eram obras de arte, os vários amigos que tinha, os presentes ganhados no Dia das Crianças. A pressa de crescer é realmente assombrosa, quando estava na escola não via a hora de estar na faculdade, quando estava na faculdade não via a hora de estar trabalhando, e agora que trabalho, não vejo a hora de chegar o fim de semana. Já me disseram que depois dos 20 a vida passa rápido, não, 18, ou foi 15?


Os portões da escola se fecham e os pais se dispersam, cada um se direcionando para suas responsabilidades, é quase irônico a forma como a preocupação toma os rostos depois de se afastarem dos filhos, sempre com alguma urgência, algo importante, uma “coisa de adulto” que tira o brilho infantil do ar. Vejo-me desejando ser uma criança novamente para decidirem tudo por mim, roupa, comida, rotina, basicamente não ter que fazer o básico das “coisas de adulto”, como acordar às cinco da manhã cansada, enfrentar ônibus lotado, esperar o cartão virar, tudo parecer tão caro. Era quase ofensivo quando falavam, ou até mesmo insinuavam, que eu era nova demais para alguma coisa, hoje em dia é um elogio aliviador poder não ter mais uma responsabilidade. Como disse, a pressa de crescer é assombrosa, mas a pressão de ser crescido é pior ainda.


Desço no meu ponto e sigo até o trabalho, religiosamente, todos os dias. Não comemoro mais o Dia das Crianças, não recebo mais doces no Dia de São Cosme e Damião, meus desenhos são horríveis e tenho poucos amigos. Não me leve a mal, gosto da minha vida de adulta, mas não gosto de ser adulta, às vezes quero correr para o colo dos meus pais, não me preocupar com dinheiro e me divertir brincando com brinquedos.


Dizem por aí que a pressa é inimiga da perfeição, mas nas “coisas de criança” não existe perfeição, apenas um tempo de validade.




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