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A cultura pop é a única opção?


Foto: Pexels


Por Gabriel Amaro


Eu estava na plateia da primeira mesa do pré-congresso do XVII Congresso Abrapcorp quando Dani Balbi (PCdoB), deputada estadual e doutora em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), começou a falar sobre a contemplação artística na dispersão do mundo contemporâneo. Ela mencionou a imposição das marcas da indústria cultural, a perda do sentido de comunidade e a supervalorização das experiências individuais. Essas observações me fizeram refletir sobre o papel da arte em nossas vidas e como a cultura pop pode influenciar nossas opiniões.


Pensando sobre isso, retomei duas ideias discutidas em crônicas anteriores: a arte como combustível da alma e as definições irrealistas da sociedade sobre o sucesso. A arte tem a capacidade de nos fazer questionar o mundo ao nosso redor; porém, a indústria cultural pode usá-la para transmitir uma mensagem superficial e consumista, que nos faz acreditar em ideias enganosas sobre o sucesso e a felicidade. É aí que entra a importância do conteúdo independente, que foge do padrão do mainstream – uma palavra usada para descrever o “fluxo principal” da cultura popular, criações que muitas pessoas conhecem ou consomem – e representa ideias e realidades que não são reconhecidas, ou melhor, que não são do interesse midiático.


O termo “indústria cultural”, cunhado por Adorno e Horkheimer - dois grandes intelectuais da Escola de Frankfurt, forte crítica da indústria cultural de massas - se refere à produção em massa de bens culturais, como música, cinema e televisão, que são padronizados e têm como objetivo principal o lucro. É justamente nesse contexto que a valorização de produtos culturais alternativos se torna uma forma de resistência à homogeneização da cultura. Por exemplo, a música indie, produzida de forma independente, muitas vezes traz letras que abordam questões sociais e políticas, e fogem dos temas mais comerciais.


Outro exemplo é o cinema independente, capaz de abordar temas polêmico, mas que são importantes para a reflexão e discussão social. Obras como Bacurau, A Vida Invisível e Que Horas Ela Volta? são exemplos de produções que trazem o debate e representam realidades que não são retratadas pela grande indústria. Na literatura, a autopublicação se tornou uma opção viável para escritores autônomos, frequentemente marginalizados pelas grandes editoras; a internet também tem sido um espaço importante para a divulgação de material independente, como webcomics e podcasts.


No entanto, mesmo com a importância dessas produções independentes, é difícil competir com o conteúdo da grande mídia. A televisão e o audiovisual desempenham um papel importante na construção da cultura e do senso crítico. E ainda que a cultura pop tente incorporar mais a realidade, é preciso ficar atento à forma com que as narrativas são construídas.


Por fim, é necessário lembrar que o entretenimento não é apenas uma forma de escapismo ou diversão, mas também carrega mensagens e pontos de vista dos veículos que o produzem. Isso não é necessariamente ruim, mas considero fundamental refletir sobre o que estamos consumindo e como isso pode influenciar nossas visões de mundo. Então, vamos nos divertir, mas não de forma alienada. Afinal, a resistência à cultura pop não significa deixar de consumi-la, mas sim escolher com lucidez, sem deixar de valorizar as produções independentes do padrão da indústria cultural.


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