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61 anos de silêncio: A lição argentina aos clubes brasileiros sobre a ditadura.

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • 9 de abr.
  • 3 min de leitura

Neste 1º de abril, data que marca 61 anos do golpe militar no Brasil, apenas 6 clubes brasileiros da Série A se pronunciaram nas redes sociais.


Por: João Pedro Serafim Alves


Reprodução: Paulo Pinto/Agência Brasil

Protesto na capital paulista para questionar as violações de direitos da ditadura civil-militar.
Protesto na capital paulista para questionar as violações de direitos da ditadura civil-militar.

No dia 1° de abril, o golpe militar de 1964 completou 61 anos — um dos episódios mais repugnantes da história brasileira. Entretanto, poucos clubes brasileiros vieram a público se manifestar sobre a data, o que é, no mínimo, decepcionante. Isso nos leva a um triste pensamento de que há um apagamento histórico em relação a ela.


Em paralelo, observamos o caso dos nossos ‘hermanos’, em que, no aniversário do início da ditadura, grande parte dos clubes argentinos faz publicações a respeito. Na Argentina, desde 2002, o povo vai às ruas no dia 24 de março, Dia Nacional da Memória pela Verdade e Justiça, para homenagear as vítimas da ditadura e lembrar os crimes praticados pelo regime. Em 2025, 28 dos 30 clubes da primeira divisão argentina se manifestaram com posts em suas redes sociais na data com a mensagem “DITADURA NUNCA MAIS.” Em comparação, no Brasil, apenas 6 dos 20 clubes da Série A — Vasco, Bahia, Botafogo, Corinthians, Sport e Internacional — se pronunciaram sobre o dia do golpe, sendo notável a disparidade na lembrança desse período entre os clubes dos dois países.


Nesse sentido, é perceptível que esses exemplos são reflexos do processo redemocrático dos dois regimes. No Brasil, houve uma anistia dos militares, que não foram julgados e, consequentemente, não sofreram as punições devidas. Além disso, o processo foi extremamente regulado para transmitir um “ar de normalidade” à população ao fim do regime. Em contraste, para nossos vizinhos, o processo foi o oposto: os militares não foram anistiados e sofreram punições pelos crimes cometidos. Logo, esse julgamento e punição aos responsáveis por perseguições e mortes contra adversários políticos impactaram socialmente o povo argentino, que foi incentivado pela criação de políticas públicas de memória a “lembrar para nunca esquecer" esse período tão sombrio de sua história.


Essa diferença na postura entre os clubes brasileiros e argentinos em relação ao golpe militar e suas memórias vem também pelo papel cultural que os clubes de futebol desempenham na sociedade argentina. “Por serem associações civis sem fins lucrativos, os clubes argentinos são mais abertos às demandas da sociedade e mais ativos politicamente. Além de serem lugares de socialização e aprendizagem dos direitos civis, políticos e culturais da população”, lembra o pesquisador argentino Nicolás Cabrera, pós-doutorando de comunicação da Uerj. Ele complementa que esses clubes são fundamentais nesse trabalho de resgate e memória de jogadores e torcedores desaparecidos, dando continuidade ao papel protagonizado por outros movimentos sociais liderados por familiares das vítimas do terrorismo do Estado. 


Entretanto, essa ainda é uma realidade utópica na sociedade brasileira, em que a ditadura ainda é tratada como um assunto polêmico, usada por políticos para suas agendas pessoais. Em 2018, elegemos um político com discursos exaltando figuras ditatoriais como Carlos Brilhante Ustra e defendendo o regime de perseguição a todos os seus opositores. Infelizmente, o futebol brasileiro reflete essa realidade conservadora, tendo inúmeros exemplos de jogadores considerados ídolos nacionais que endossam discursos desses grupos políticos, o que demonstra sua falta de consciência social.


O futebol é um esporte com grande poder mobilizador, sendo um dos elementos que formam a identidade de um povo, no qual se compartilham suas emoções e pensamentos. Por isso, ele, assim como qualquer outro esporte, possui uma dimensão política. Mais do que isso, é uma importante ferramenta de engajamento e conscientização da população, com capacidade de influenciar e engajar novas gerações a não esquecerem o passado.


A diferença do modo como essa ferramenta é utilizada por clubes argentinos e brasileiros é perceptível. Enquanto o engajamento dos clubes argentinos é um exemplo para nós brasileiros, essa menor adesão no Brasil reflete um contexto social em que a ditadura ainda é um assunto polêmico. Por isso, é necessário aprendermos com o exemplo argentino — negligenciar nossa própria história pode nos condenar a repeti-la. #DitaduraNuncaMais




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