Vida doce como mel
- Comunica Uerj
- 23 de set.
- 3 min de leitura
Projetos de extensão sobre abelhas sem ferrão, idealizados por docentes e discentes do curso de Biologia da Uerj, adoçam espaços universitários e urbanos.
Por Daniela Fernandez
Ao caminhar pelo campus Maracanã da Uerj, você já notou a presença de alguma casinha de madeira semelhante a uma pequena casa de passarinho? Essas construções estão espalhadas por vários pontos estratégicos da universidade, e servem como ninhos para preservar as abelhas e promover a polimerização de plantas.
As abelhas, seres tão pequeninos, mas tão importantes para o equilíbrio da natureza, normalmente passam despercebidas por nossos olhos. E são estigmatizadas também. Generaliza-se um medo em relação a esses insetos, devido à presença, em suas anatomias, de um órgão realmente perigoso, que atua como mecanismo de defesa: o ferrão. Mas muitas pessoas esquecem que nem toda abelha possui ferrão. É o caso da espécie Tetragonisca angustula, mais conhecida como jataí-amarela. E são justamente elas que colorem os arredores da universidade. As jataí pertencem ao projeto Abelhas Uerj, que conta com o incentivo do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag).
Reprodução: Antonio Carlos de Freitas/BioCenas

A inserção dessas criaturas no meio acadêmico não é exclusividade do campus Maracanã. A Faculdade de Ciências Biológicas e Saúde (FCBS) da Uerj Zona Oeste também fortalece o movimento de preservação das abelhas jataí. Isso é feito com auxílio da iniciativa Abelhas sem Ferrão, coordenada pelo professor de biologia João Bosco de Salles, que integra o corpo docente da FCBS. E ainda não para por aí. O Abelhas sem Ferrão estende suas atividades para fora do ambiente universitário: o amarelo das jataís colore escolas públicas e privadas, sítios com meliponários (espaços dedicados exclusivamente à conservação de espécies de abelhas sem ferrão, as meliponíneas) e quilombos urbanos e rurais.
O objetivo principal do trabalho reside na tentativa de promover educação ambiental, especialmente para estudantes dos ensinos médio e fundamental. Segundo o professor João Bosco, a grande ideia desses projetos de extensão é informar e educar. No entanto, ele reitera que dependendo do local onde colônias de abelhas sem ferrão são introduzidas o objetivo pode mudar, e esses animais podem realmente ser peças-chave em processos de reflorestamento de áreas que perderam cobertura vegetal por fatores antrópicos e climáticos.
Reprodução: Vera Dantas

Talvez as queridas jataís remoldem o pensamento coletivo quanto ao papel das abelhas na Terra. O imaginário referente aos bichinhos é, em boa parte, bem infeliz, composto por lembranças de dias nos quais a brincadeira de criança terminou em fatalidade. Afinal, para crianças aventureiras e travessas, que se deleitavam com encontros na rua nos quais o sapato era um acessório dispensável, o contato com esses seres pode não ter sido a melhor das experiências. A famigerada pisada em ferrão de abelha realmente deixa uma marca negativa na infância, mas serve, também, para refletirmos que o direito à defesa e ao autocuidado não são características inerentes somente a nós, meros Homo sapiens sapiens. Pisar em ferrão de abelha machuca. Mas também serve para relembrar que o mundo não gira em torno de nós. Então, vamos combinar: sem ferrão ou com ferrão, qualquer abelha merece proteção.
Neste mês de setembro, no qual o florescer dos famosos ipês rosa (Tabebuia rosea) ornamentam o campus Maracanã, a universidade se torna um caminho ainda mais colorido com as abelhas jataí, no qual o rosa e o amarelo se mesclam e a vida parece um pouco mais doce. Doce como mel.
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