top of page

Uma perspectiva ancestral para o futuro

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • há 5 horas
  • 3 min de leitura

Exposição afrofuturista feita por adolescentes da Zona Oeste chega à Uerj.


Por: João Otávio Alves


Foto: Lara Soares

Exposição Meu Afrofuturo no 9º andar
Exposição Meu Afrofuturo no 9º andar

O que jovens negros e negras podem imaginar para o seu futuro? Será que conseguem se enxergar devidamente empregados, escolarizados ou vivos? De certo, a estrutura pautada pela desigualdade racial que perdura há séculos no Brasil, não contribui com uma visão muito otimista para pessoas negras, mas a exposição “Meu Afrofuturo” fez nove jovens concretizarem artisticamente uma realidade livre e vivaz para a sua população. 


O Instituto Levante Aço, projeto comunitário da Zona Oeste do Rio voltado para a juventude da Favela do Aço, em Santa Cruz, e adjacências, se debruçou sobre o conceito do afrofuturismo e levou seus jovens a montar uma exposição artística, expressando o sentimento sobre o mundo que imaginam em alguns anos. O afrofuturismo é um movimento cultural, artístico e político, que tem por objetivo construir narrativas a partir de tecnologias ancestrais, reimaginando o futuro em uma perspectiva negra. 


Seja por meio da ficção especulativa, da filosofia ou da arte no geral, o conceito permite que a população africana e afro-diaspórica se desprenda de um pessimismo natural — advindo de suas vivências violentas — e pense um mundo sem a interferência eurocêntrica. Desse modo, a iniciativa do Levante Aço de inserir essa ideia para seus jovens concretizou-se a partir da realização de um laboratório criativo sobre memória local e a importância do afrofuturismo para a população negra, promovendo uma imersão com oficinas de colagem, fotografia, música e escrita criativa, para que eles pudessem se entender dentro desse conceito. 


Visto que a maioria das pessoas que vivem dentro das favelas é negra, a exposição foi pensada para compreender essa identidade, conta Laura dos Santos Ramos, coordenadora do instituto. Laura é produtora cultural e artística, graduanda de licenciatura em história e cria da favela do Rollas, em Santa Cruz, e acompanhou de perto o trabalho com os jovens. Ela fala sobre como muitas vertentes artísticas não compreendem parte da população, inviabilizando uma representatividade igualitária. Mas o afrofuturismo trata temas essenciais como território, racialidade e ancestralidade, que contribuem para a inversão desse quadro. Laura afirma o quanto os adolescentes, que nunca haviam ido há uma exposição ou experimentado a arte do mesmo modo como moradores de outras zonas, puderam se identificar com a cultura a partir das noções afrofuturistas, e o quão impactante foi vê-los se enxergarem enquanto artistas pela primeira vez, através de suas próprias criações. “Era a primeira vez que eles tinham contato com qualquer tipo de arte. Vê-los se identificando enquanto pessoas que podem fazer arte foi uma das coisas que mais nos tocou”, disse Laura emocionada.


Como exemplo dessa identificação, Pietro Lucas, conhecido como Olsi Rava, é um artista negro de 17 anos do Conjunto Habitacional Cesarão, em Santa Cruz, que foca na cultura afro-brasileira. Com 5 obras integrando a exposição “Meu Afrofuturo” e expondo pela primeira vez, Rava destaca como a população da Zona Oeste, apesar de não ter tanta visibilidade, tem o poder de tornar-se visível. A partir do projeto do Instituto Levante Aço, a forma de transformar elementos passados em atuais foi o que mais chamou sua atenção no afrofuturismo, permitindo-o levar isso para seus trabalhos. Além disso, ele está criando um projeto em conjunto com outros integrantes do instituto, chamado “Levante Arte”, com o objetivo de dar visibilidade a artistas periféricos. Ele conta com carinho sobre o impacto do projeto em sua vida, os laços que criou e as possibilidades que descobriu. “O Levante Aço é uma parte fundamental da minha vida, hoje eu sou um artista graças a ele.”


Idealizada por Moana Couto e Rayane Marques, a exposição itinerante “Meu Afrofuturo” seguirá se apresentando nos demais locais do Rio de Janeiro, sendo possível acompanhá-la por suas redes sociais: @institutolevanteaco e @meuafrofuturo.


Comments


bottom of page