Minha Uerj tem palmeiras onde canta o maracanã
- Comunica Uerj
- 30 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de out.
Algumas barulhentas, outras discretas, mas sempre presentes: aves do campus representam muito além da beleza e da canção
Por: Carlos Roberto
Você está na fila do bandejão e, no jardim em frente ao restaurante, se depara com um casal de pássaros de penas marrons e peitos amarelados sobrevoando um ramo de flores vermelhas, ou um beija-flor verde sugando o mel da flor do cacto. Em outra ocasião, na sala de aula, um pássaro de cor ferrugem que parece fazer acrobacias circenses. Passando pelas palmeiras que dão acesso ao bandejão, uma algazarra de aves tão verdes quanto as folhas dessas árvores, o que dificulta a localização, mas a cantoria é marcante. Saiba que a sua universidade é um nicho ecológico dessa formosa classe de seres vivos. Seja como refúgio temporário — peço licença poética para atribuir o termo “pousada” — ou como morada, é quase impossível não reparar nos passarinhos da Uerj.
Na fila do bandejão, o que você costuma ver é o beija-flor-tesourão e os sabiás-laranjeira. O pássaro acrobata é o gibão-de-couro, que faz essa manobra para capturar as presas nos ar. E a vocalização quase ensurdecedora nas palmeiras vem das aves do gênero maracanã, que dá origem ao bairro e ao estádio de futebol, e inclui periquitos, papagaios e maritacas. Como um bom observador de aves, que deixa um binóculos na mochila, procurei especialistas no assunto, que destacaram a importância delas para o equilíbrio ecológico, além de revelar o encanto que elas transmitem aos olhos e aos ouvidos. Jean de Souza Pinto, mestrando em ecologia e evolução, afirma que a manutenção do ecossistema passa pela polinização. Por isso, durante o processo evolutivo, diversas espécies de plantas se tornaram específicas, ou seja, desenvolveram suas flores para chamar a atenção de determinadas espécies de aves. O beija-flor-tesourão, cujo bico se parece com uma grande agulha curva de costurar colchão, costuma se alimentar do néctar da flor do cactus palma, cujo formato facilita a sucção.
Com a chegada da primavera, será muito comum avistarmos cenários coloridos e floridos, e muito se deve a esse valoroso processo, que ocorre junto às abelhas e a outros tantos insetos.
Reprodução: Carlos Roberto Alves

Beija-flor-tesourão pousa no cactus palma, no jardim em frente ao bandejão
Observar aves no meio urbano é um exercício de reflexão sobre a vivência e a proximidade com o local. Não adianta querer procurar por aves raras que vivem em locais isolados sem antes observar a natureza que está mais próxima, logo ali depois da janela. É o que aponta o professor Ricardo Tadeu Santori, coordenador do projeto de Observação de Aves FFP/Uerj. Por meio das aves podemos pensar em como a degradação urbana pode ter um traço de beleza e ao mesmo tempo de resistência. Muitas espécies conseguem se adaptar facilmente ao caos da cidade, outras têm mais dificuldade por conta dos ruídos que interferem na comunicação e, consequentemente, na reprodução. Uma cidade sustentável é a que deve garantir a harmonia com a natureza. A partir dos estudos junto à professora Maria Alice dos Santos, do Laboratório de Ecologia de Aves e Comportamento (LabEcoAves), Jean explicou que a Uerj, por exemplo, funciona como uma step and stone, termo que se refere a uma “pedra utilizada como passagem”. Em uma escala macrocósmica, a universidade é uma dessas passagens, funcionando como uma “linha verde” ou corredor de árvores, envolto pela selva de pedra. Não fosse esse abrigo, seria muito difícil a sobrevivência dos pássaros. Mas em meio à luta pela adaptação, também vemos uma certa magia e poesia no cantarolar, que serviu de inspiração para o projeto do professor Ricardo. A observação motiva a produção de vídeos que são transformados em podcasts, em parceria com o AudioLab, laboratório de áudio da FCS. Somente na Faculdade de Formação de Professores, em São Gonçalo, foram catalogadas 69 espécies e a ideia é fazer o levantamento até o campus Maracanã. Seria uma honra fazer parte da elaboração desses estudos, principalmente com o acervo dos voos giratórios do gibão-de-couro.
Reprodução: Carlos Roberto Alves

Gibão-de-couro na rampa do 12º andar
A representação vai além do conhecimento científico. É cultural. Tem uma ave que é mascote do seu time de futebol, outra presente em uma música folclórica que marcou a sua infância, até mesmo sambas-enredo, anedotas, piadas e superstições.
O mantra do projeto é redentor: a ave é o buraco da fechadura para você olhar e querer abrir a porta para ampliar a sua percepção sobre o ambiente. Ao avistar uma ave na Uerj, por mais que esteja na correria, reserve um tempo para observá-la. Quem sabe você possa entender que uma andorinha só não faz verão, mas juntas elas fazem uma bela primavera. Inclusive, dia 5 de outubro é o Dia da Ave, um momento dedicado às nossas grandes amigas que têm muito a nos ensinar.
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