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Mesmo sem alcance e sucesso esperado, ‘Vale Tudo’ reacende o horário nobre e gera engajamento do público

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    Comunica Uerj
  • há 1 hora
  • 4 min de leitura

Por: Pedro Câmara


Reprodução: TV Globo

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Apesar da simplificação do texto original e da direção sem inspiração, o folhetim segue gerando debates entre o público, seja pelos temas diretamente relacionados ao enredo original como ganância, honestidade e ascensão social ou as mudanças descabidas da autora junto a uma enxurrada de propagandas em meio às cenas.


O Upfront (evento anual) da Rede Globo em 2026 foi marcado por uma linha fundamental, mostrar a amplitude e a disparidade da emissora em relação aos demais concorrentes. Apresentou dados impressionantes em relação a fidelidade e engajamento dos usuários do Globoplay, que se mostrou ser o que mais retém a atenção de seus assinantes (2h8m), apresentou seus principais projetos e fez uma aposta para o futuro: as novelas em formato vertical, cujo ideia consiste em um produto mais enxuto - 50 capítulos - feito para ser veiculado nas redes sociais em vídeos de dois a três minutos que já conta com a influencer Jade Picon como vilã da trama.


As telenovelas são produtos culturais construídos em conjunto pela relação autor e espectador, apesar de existirem outros intermediários da comunicação. Nesse contexto é que a Globo tenta se moldar às tendências e atrair o público, especialmente, os mais jovens às novelas. As turbulências foram muitas, a demissão de atores consagrados no pré-pandemia, a polarização política e a divisão da atenção com celulares e streamings fizeram com que se tentasse implementar novas políticas para atrair novamente o público, como a produção de remakes e inserção de influencers nas tramas.


Mania de Você (2024) foi duramente criticada por ter sofrido diversas alterações comparada a seu roteiro original, a direção da emissora encabeçada por Amauri Soares, viu os números de audiência descerem ladeira à baixo e, em pânico, decidiu mudar totalmente o roteiro original. Já em Vale Tudo, temerários das críticas na alteração do texto e confiantes na autora, deram carta branca para que Manuela Dias fizesse o que bem entendesse com a trama e assim o fez.


A equação para o sucesso e repercussão de uma novela é inexata, e a busca por ela também. O cálculo feito por Vale Tudo não fecha enquanto trama, já que existem pontas soltas em quase todos os capítulos, porém o resultado final como empresa é sensacional. Isso não quer dizer que esse caminho vai se seguir ou se repetir, até porque as equações mudam e o que não faltou foram críticas do público, mas justamente por isso se fez valer o dito popular “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim.”. Os números de audiência foram regulares - média de 23 pontos em São Paulo - no entanto, outras praças obtiveram maior sucesso em audiência que a depender do capítulo chegou alcançar a regularidade na faixa dos 30 pontos, o que não acontecia há quase dois anos.


O que impressiona mesmo é a mobilização popular e o debate público em torno da novela. No sábado (11/10), seus fãs realizaram um bloco de carnaval em frente à sede da TCA no centro do Rio. Outro exemplo é a mobilização de bares e restaurantes que promovem ações para assistir ao último capítulo, com direito a promoções e bolões. Mas o grande trunfo de Vale Tudo é o sucesso nas redes sociais, segundo uma pesquisa da Ativa Web Inteligência Digital feita durante 30 dias nas principais redes sociais, foram 287 milhões de interações, feitas organicamente por espectadores que comentavam a novela, o que também gerou reportagens e colunas de comportamento, ou os cortes, trends e memes da novela que fazia parte do planejamento montado pela comunicação para ganhar o engajamento nas telinhas.


Outro fator que impulsionou o debate sobre a novela foram as inúmeras alterações feitas por Manuela Dias, que vão desde de tramas relâmpago e incongruências do próprio roteiro com seu universo ao desrespeito total à sequência do enredo original. O merchandising diário dentro da dramaturgia, muitas vezes, carecia de nexo e tato para as inserções - como quando Afonso está internado no hospital com um câncer e começa-se a discutir sobre como os amaciantes ou fraldas do anunciante são bons.


Acima de tudo isso, a história original escrita por Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva tinha como mote representar um país recém liberto da ditadura e fazer o questionamento clássico “Vale a pena ser honesto no Brasil ?”. Essa pergunta era sustentada por uma trama em que existia um tripé de protagonistas, Maria de Fátima, Raquel e Odete. Nesta edição, até isso foi alterado, Raquel que é interpretada por Taís Araújo, que vinha fazendo um trabalho emocionante foi excluída do papel de protagonista na reta final e relegada à pequenas cenas que demonstram seu sucesso profissional.


Dessa forma, apesar de pontuais alterações bem feitas, como a trama de Leonardo e as novas camadas de Celina ou de alterações precisas aos novos tempos como a influencer Fátima Acioli ou feminismo de Odete Roitman. Vale Tudo de 2025 parece um versão mastigada e simplificada da versão de 88 ao abandonar o subtexto político-social e focar em tramas secundárias que mesmo quando havia algo de político soava protocolar e expositivo.



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