Como Brasil quer ser protagonista da COP 30 se não consegue fazer dever de casa?
- Comunica Uerj
- 2 de set.
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Em palestra realizada na faculdade de Ciências Sociais da Uerj, deputado Carlos Minc enfatiza principais problemas que deflagram atraso frente à luta ambientalista
Por: Carlos Roberto
O evento teve início com cerca de trinta minutos de atraso devido ao trânsito no entorno, mas quem esteve presente pôde perceber que atrasados mesmo são os governantes que negligenciam ou não fomentam as pequenas ações as quais trazem grandes efeitos no desafio de mitigar os danos ambientais. São práticas realizadas no dia a dia por profissionais e autônomos que por vezes não têm valor reconhecido. Catadores e suas cooperativas, tendeiros de bazares de roupas, centros de coletas de resíduos orgânicos recicláveis (principalmente óleo de soja), educadores ambientais e tantos outros personagens que exercem o nobre exercício de dar novos usos aos materiais que seriam descartados. Esse foi um dos principais temas abordados pelo deputado estadual Carlos Minc (PSB), que iniciou a palestra destacando os três temas mais trabalhados em sua luta libertária: o racismo, a homofobia e a intolerância religiosa.
Exercendo seu papel como deputado estadual, Minc distribuiu cartilhas do Cumpra-se!, uma campanha para fazer as leis saírem do papel, e despertar no cidadão a autonomia para exercer os seus direitos. Não foi difícil perceber a relação entre as temáticas para a condução do discurso, pois não há como falar sobre meio ambiente sem refletir sobre a sociedade. Pensar o jornalismo é justamente fazer esta reflexão, afinal, “a ignorância é parceira do ódio e da desinformação.”
Foto: Reprodução

Um país que carrega a herança colonial escravista e demoniza a cultura africana utilizando a questão ambiental para justificar a poluição dos recursos hídricos através das oferendas, além de culpar os moradores das favelas pelos deslizamentos de encostas causados pelo desmatamento durante a construção de casas, precisa aprender a enxergar as verdadeiras raízes históricas, que são regadas e sustentadas pelo racismo estrutural. O estigma sofrido pelas populações negras e pobres é o espelho da violência simbólica que persiste em atrasar - e impedir - a luta em prol de uma sociedade justa e sustentável. Neste sentido, a Ciência Social é um pilar fundamental para compreendermos a problemática.
A confluência de saberes que a comunidade acadêmica pode trazer é o esteio que a sociedade necessita para sobreviver e receber tudo o que ela investe no setor público, principalmente nas universidades. Mudar o modo de produção utilizando-se de tecnologias limpas, ouvir e dar atenção aos catadores e suas cooperativas, atendendo aos seus anseios e prezando pela sua segurança e integridade, fomentar projetos de reutilização de bens como roupas - um dos estudantes citou o projeto Ecomoda pensando em moda. Declarando-se forte aliado da Uerj, Minc também frisou a importância de se debater Educação Ambiental nas escolas, citando como um dos projetos o desuso de utensílios plásticos descartáveis nas escolas. Penso que cada vez mais é possível ir mais além enquanto essa sinergia universidade-sociedade se mantiver firme. Não adianta chegar ao megaevento da COP 30 e apenas culpar os países desenvolvidos pelos desastres climáticos e desprezar essas ações que trazem uma profunda diferença na redução dos danos. Os povos originários e as classes mais pobres e oprimidas tendem a pagar o preço altíssimo do poder destrutivo da ganância das grandes empresas e da guerra fiscal ambiental entre estados e municípios. O protagonismo não se constrói em meio a estas divergências.
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Com um olhar crítico, progressista, libertário e ativista, Minc foi a voz potente que abriu muitos caminhos no âmbito da observação e da semiótica na reflexão acerca do ambientalismo sem se esquecer dos fatos sociais. Grande defensor das universidades, afirmou o compromisso do corpo acadêmico de se fazer cada vez mais presente nas ruas, escolas e sobretudo atender às regiões desamparadas pelo poder público. Tendo marcado presença nas últimas edições da Uerj sem Muros e da Semana do Meio Ambiente Uerj, sua cosmovisão é enriquecedora. A sabedoria de quem se dedica na resolução de pautas tão importantes para uma justiça social concomitante à sustentabilidade. Apesar de ter apreensão quanto à atual conjuntura turbulenta, nutrir o otimismo é juntar forças com pessoas envolvidas nos mesmos ideais.
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