Cinema e meio ambiente: um par inusitado aparentemente, mas extremamente poderoso

Festival de celebra a potencialidade do audiovisual como ferramenta educativa acerca do cenário ecológico mundial

Por Daniela Fernandez

Entre os dias 27 de agosto e 5 de setembro, foi realizada em terras cariocas a 14ª edição do Filmambiente. A proposta do evento consiste em unir a linguagem audiovisual às questões climáticas e socioambientais enfrentadas no Antropoceno, período mais recente da história do planeta Terra, no qual a atividade antrópica passa a interferir nos rumos da natureza.

Reprodução : Equipe Filmambiente

Cartaz promocional do festival, criado pela artista Christiane Drummond

Juntos resistimos . Essa é a mensagem principal que os idealizadores do Filmambiente desejam passar ao público. E, de fato, a equipe do festival se esforçou bastante para tal. Desde 2011, ano da criação do projeto, os produtores levaram a sério as ideias de união e de resistência aos males dos desastres ambientais e sociais. É de extrema relevância, inclusive, destacar o engajamento dos curadores da mostra com pautas que não abordam somente fauna e flora. A curadoria de filmes foi cuidadosamente pensada com o intuito de transmitir ao telespectador a importância de encarar a ecologia como um agregado macrocósmico, que vai além da vitória-régia e do mico-leão-dourado e circunda inevitavelmente agentes socioespaciais pertencentes às diversas cidades do mundo.

Com o objetivo de ampliar a notoriedade do Filmambiente, os produtores do evento se empenham em planejar, em cada edição, uma votação que convida os telespectadores a votarem nos filmes que mais lhes agradaram. O longa Pele de vidro, escolhido pelo júri como vencedor da categoria de melhor longa-metragem documentário brasileiro deste ano, é o exemplo perfeito de que o festival pretendeu divulgar produções que não trabalhem com uma visão simplista do significado de meio ambiente . Dirigido por Denise Zmekhol, o documentário é um relato comovente narrado pela própria cineasta, que procura conhecer um pouco mais sobre a história de uma das obras-primas da arquitetura brasileira modernista: o edifício Wilton Paes de Almeida, apelidado de Pele de vidro, projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol, pai de Denise. Mas o filme não se resume a isso, visto que o roteiro se desdobra por várias dimensões socioambientais que revestem São Paulo, abordando temas referentes à desigualdade social vista na metrópole, como as ocupações feitas por pessoas em situação de rua, bem como diversos imóveis abandonados.

O Filmambiente se dedica a uma tarefa extremamente necessária nos dias atuais: a de promover uma educação ambiental que não exclua questões como direitos à moradia e à mobilidade urbana de qualidade para todos. E a introdução dessa educação no cotidiano deve ser feita a partir da infância. Por isso, a curadoria do festival não descarta o público infantil da programação e conta com a presença de diversas animações, que fazem parte do Programa Escolas, categoria destinada aos estudantes das escolas do Rio de Janeiro. De maneira inclusiva, o Filmambiente também realizou sessões no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), a fim de que a educação ambiental alcance todas as salas de aula, com a devida atenção à parcela de pessoas surdas que residem no estado.

Reprodução: equipe Filmambiente

Sessão de abertura do 14º Filmambiente, realizada no Estação Net Rio, em Botafogo

A existência de atividades culturais anuais como a mostra do Filmambiente é reflexo de um movimento esperançoso em relação à educação ambiental. Se continuarmos a financiar e apoiar projetos inclusivos e inteligentes como esse, o vislumbre de um mundo mais consciente, atento às consequências do consumismo, da poluição e das desmesuráveis capitalização e exploração de recursos naturais não será uma projeção tão inatingível.