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‘Slow fashion’ e alternativas para consumo de moda consciente

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • há 7 dias
  • 4 min de leitura

A coluna desta semana aborda sustentabilidade e apresenta entrevista com Miguel Bessa, co-criador da marca de bolsas artesanais Mabe.


Por Mariana Castro


Reprodução: Mabe

O fast fashion, ou moda rápida, baseia-se na produção em massa de roupas de baixo custo. Embora ofereça uma ampla variedade de tendências e preços acessíveis, esse modelo demanda grandes quantidades de recursos naturais, como água e energia, e gera um volume elevado de resíduos têxteis. Segundo a revista Forbes, peças de fast fashion são usadas, em média, menos de cinco vezes e produzem até 400% mais emissões de carbono do que roupas de marcas slow fashion — que costumam ser usadas pelo menos 50 vezes. 


Além disso, ao concentrar a produção em países com mão de obra barata, muitas dessas empresas se beneficiam de condições de trabalho precárias, muitas vezes análogas à escravidão. Grandes marcas, como a Zara, em 2011, durante a CPI do Trabalho Escravo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e a Renner, no ano de 2014, durante uma investigação do Ministério do Trabalho, já foram acusadas de envolvimento nessas práticas. Outra gigante do mercado, a Shein, também já foi alvo de acusações. Segundo um relatório de investigação do grupo suíço Public Eye, trabalhadores de alguns fornecedores da marca chinesa chegam a cumprir jornadas de até 75 horas por semana.


Portanto, buscar alternativas é necessário. A questão não é simplesmente deixar de consumir em grandes redes — considerando a aparência de bom custo-benefício —, mas sim reduzir a frequência dessas compras e valorizar outras formas de consumo, como conhecer marcas de pequenos produtores locais, explorar sites de revenda como o Enjoei ou visitar brechós.


Miguel Bessa, aluno do curso de Ciências Sociais da Uerj, é cofundador da Mabe, marca de bolsas de crochê com produção 100% artesanal e autoral. A loja, cujo nome é a junção das iniciais do sobrenome de Miguel e do prenome de sua cofundadora e amiga Mariana Jatobá, existe há 1 ano e 3 meses — e já é um sucesso.


Miguel contou que nunca teve a intenção de criar uma marca, e que a ideia surgiu de forma inesperada — influenciada por sua conexão com a arte e pela amizade com Mariana, que compartilhava esse mesmo interesse. Em um dia qualquer, ela sugeriu: “E se a gente vendesse alguma coisa?”. Os dois, que não possuíam nenhum conhecimento sobre crochê, resolveram arriscar e, após seis meses de testes, criação e planejamento, lançaram a marca de bolsas coloridas com acessórios autênticos.


A ideia inicial era oferecer apenas bolsas em paletas coloridas, fugindo dos tons mais comuns, propondo algo inovador, descontraído e único. Entretanto, com o aumento da demanda, a marca passou a incluir também tons neutros — mantendo, porém, a estética das bolsas icônicas, com franjas, bordados e aviamentos ousados. O estudante e empreendedor de 23 anos contou que tudo aconteceu de forma muito natural e fluida — tanto na evolução dos modelos das bolsas, que se aprimoraram em técnica e variedade, quanto no aumento da equipe e na escolha dos materiais utilizados.


Reprodução: Mabe


Atualmente, as bolsas são produzidas com fio de malha, mas durante muito tempo a marca utilizou material residual — obtido a partir do reaproveitamento de resíduos têxteis, como sobras de malhas de fábricas. A mudança foi motivada pelo aumento da demanda, tanto pelas bolsas quanto pelo próprio material residual — o que, para uma marca pequena em apenas um ano, é bastante significativo. Miguel destaca que, apesar da mudança, a sustentabilidade continua sendo um pilar essencial da marca, que não emite poluentes e realiza o reaproveitamento total dos materiais. E, claro, com a produção manual, que passou de duas para seis pessoas.


Entre os desafios de trabalhar com o slow fashion, Miguel apontou como principal a questão do tempo de produção das peças, que muitas vezes não corresponde às expectativas dos consumidores. A loja funciona sob demanda, sem estoque, e cada item é feito sob encomenda. Segundo ele, o processo da bolsa começa já no site, no momento em que o cliente realiza a compra: “O consumidor está muito acostumado a comprar tudo de forma rápida. Quando entra nesse nicho, muitas vezes não se atenta a essas questões, como o tempo de produção.” A estrutura das bolsas — feita com uma agulha utilizada para crochetar o fio de malha — leva, em média, de 40 minutos a 1 hora para ser concluída. No entanto, o tempo total de produção é maior, já que cada peça recebe diversos aviamentos e detalhes que fazem parte do processo.


Miguel finalizou, orgulhoso, contando que estão no processo de construção do ateliê da marca, uma grande conquista. Ele também mencionou os planos — ainda para 2025 — de lançar uma coleção de roupas de crochê.


Assim, o slow fashion surge como alternativa consciente, promovendo a transparência e incentivando um consumo mais ético e responsável. A conscientização sobre a origem dos produtos é crucial para promover mudanças significativas e construir uma indústria da moda mais sustentável e justa. 


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