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Elevador Fashion: vetores da moda do 3⁰ andar apontam para desigualdade de gênero

  • Foto do escritor: Comunica Uerj
    Comunica Uerj
  • 8 de mai.
  • 3 min de leitura

Por: Carolina Coutinho


Foto por: Mariana Guimarães


Essa semana a parada do Elevador Fashion é no 3⁰ andar, especificamente, no Instituto de Física da Uerj, onde está localizada a maior concentração de calças jeans e camisas de banda da universidade. Contudo, aqueles que se deixam levar pelo estereótipo do “estudante de exatas alheio ao mundo fashion" se contentam com uma análise superficial do cotidiano dos alunos. A coluna investigou os motivos por trás desse estereótipo e chegou a um dado interessante. Segundo a publicação mais recente do DataUerj, em 2024, cerca de 70% dos estudantes matriculados no curso eram homens.


Alice Guimarães e Ana Luíza Brito, ambas do 2⁰ período, relataram o impacto dessa estatística na experiência universitária, inclusive, no modo delas de se vestir para as aulas. Suas principais queixas são sobre o preconceito com diversos tipos de vestimenta, em um meio tão acadêmico e machista. Alice, inclusive, destacou que, ao vestir roupas mais coloridas, informais, ou muito femininas, é comum que as pessoas não a vejam com respeito enquanto cientista.


Entretanto, a forte presença de homens no curso não impede as “físilindas” – apelido concedido às uerjianas de física – de explorarem seus respectivos estilos pessoais, ainda que haja restrições: “Eu evito usar roupas mais curtas ou mais apertadas, porque eu não gosto desse tipo de atenção masculina. Mas eu tento explorar de outros jeitos”, diz Alice. No entanto, não é só o machismo que restringe a criatividade fashion dos estudantes, mas também a rotina de estudos. O mistério do porquê de tantos apaixonados por jeans é simples: as calças são uma exigência dos professores para garantir a segurança durante as aulas práticas, e acabaram  caindo no gosto dos cientistas pela praticidade.


Fotos por: Carolina Coutinho

Alice e Ana Luíza exploram seu estilo pessoal por meio de acessórios, meias de lacinho, salto-alto e presilhas divertidas. O look de Alice foi, inteiramente, garimpado em brechós.
Alice e Ana Luíza exploram seu estilo pessoal por meio de acessórios, meias de lacinho, salto-alto e presilhas divertidas. O look de Alice foi, inteiramente, garimpado em brechós.

Ana Luíza definiu duas grandes influências no estilo do curso: o universo geek – que engloba jogos, filmes e livros da comunidade nerd – e a música. De fato, foi avistado pela colunista um considerável número de camisetas de banda e super-heróis, além de muitos (mas MUITOS!) cubos mágicos, aparentemente o passatempo favorito dos físicos.


Alunos de física posam (a partir da esquerda) com bermuda estampada de Naruto, camiseta do Homem-Aranha e camisa estampada com discos de vinil.
Alunos de física posam (a partir da esquerda) com bermuda estampada de Naruto, camiseta do Homem-Aranha e camisa estampada com discos de vinil.

As alunas destacaram a pouca presença da moda no dia a dia da física e comentaram que sentem falta desse tópico nas conversas, que é comum nos bate-papos de outros andares. Ana Luíza justifica esse desinteresse com algumas características dos cursos de exatas, como as dinâmicas de relacionamento mais frias e o distanciamento entre os estudantes como um fator para a despreocupação com os looks. Ainda segundo ela, os estudantes precisam, no máximo, considerar se apresentar, da forma mais formal possível, para situações como emprego e iniciação científica.


Quando perguntadas sobre experiências constrangedoras devido aos looks mais criativos no ambiente universitário, Ana Luíza contou a história inusitada de seu primeiro dia de aula: “Eu não sabia como as pessoas vinham vestidas pra faculdade, e eu já me arrumo de forma muito extravagante. A única pessoa que eu tinha de referência sobre isso era a minha avó, que me levava para a faculdade com ela, quando eu era pequena. Ela estudava direito, então ia para as aulas de terninho e salto alto. Então, eu pensei que deveria vir assim, e fui para o primeiro dia de aula de salto, com a calça jeans mais formal que eu tinha, e uma blusa estampada.” Infelizmente, ao invés de elogios, Ana recebeu olhares negativos, esses sem distinção de gênero, e afirmou que os que mais a magoaram vieram de mulheres.


Sobre as diferenças nos estilos de homens e mulheres do curso, Alice destacou que nunca viu os homens do 3º andar usando acessórios, sapatos diferentes ou diversificando o visual. Enquanto isso, as físilindas seguem arrasando pelos corredores do instituto.



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