Assédios no 10º Andar
- Comunica Uerj
- há 37 minutos
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Alunas denunciam abordagens e comportamentos invasivos dentro da Uerj
Foto: Freepik

Nas últimas semanas, casos de assédio sexual foram denunciados na Uerj. Todos possuem um ponto em comum: as vítimas descreveram e identificaram o mesmo assediador. Os relatos apontam ocorrências em pelo menos três andares do campus Maracanã, onde um homem branco de estatura média, calvo, de cabelo preto raspado, e aparentando ter cerca de 25 anos, abordou alunas da universidade de forma suspeita e com comportamento estranho.
O assediador foi identificado como estudante do curso de Matemática e, segundo os relatos, se aproximava das vítimas com perguntas aparentemente inocentes, geralmente relacionadas ao curso ou a conteúdos, mas logo adotava um tom invasivo. As estudantes relataram que o homem demonstrou interesse mesmo diante de sinais claros de desconforto. Ele invadiu o espaço de algumas, aproximando-se de forma insistente e forçando contato físico. Em alguns casos, chegou a segui-las pelos corredores da universidade — inclusive até a porta do banheiro feminino. Além disso, perguntou o horário das aulas de algumas alunas e as convidou para beber.
Uma das estudantes relatou o episódio em que conseguiu despistar o homem enquanto estava sozinha, com apenas algumas pessoas sentadas por perto: “Ele se aproximou de mim e perguntou onde ficava o curso de Psicologia. Respondi que era no 10º andar. Como pensei que só queria essa informação, voltei a olhar para o celular, mas percebi que ele não se afastou. Perguntou meu nome, qual curso eu fazia e insistiu em continuar puxando assunto. De repente, se aproximou ainda mais. Comecei a ficar nervosa e resolvi sair dali, dando uma desculpa de que precisava ir embora.” A estudante já tinha conhecimento das abordagens do homem — embora não soubesse como ele era fisicamente — por participar de um grupo de Whatsapp em que outras alunas relataram ter sido assediadas por ele.
Outra aluna contou sobre o dia em que estava indo embora e foi abordada pelo mesmo homem: "Eu estava indo embora, e quando passei perto do banheiro, ali no corredor, ele me parou e perguntou se eu fazia algum curso daquele andar. Eu respondi que sim, e ele disse que fazia Matemática. Eu até fui simpática, porque não estava entendendo o que estava acontecendo. Foi então que ele tentou me abraçar e falou: 'Mata essa aula aí e vamos ali no cantinho comigo.' Me afastei na mesma hora, dizendo que precisava ir."
Não é possível calcular, ainda, o número exato de vítimas, mas, com base na quantidade de relatos, estima-se que ao menos seis alunas tenham sofrido assédio. A maioria dos episódios ocorreu no 10º andar do campus Maracanã, onde funcionam o Instituto de Psicologia (IP-Uerj) e a Faculdade de Comunicação Social (FCS).
Segundo o Centro Acadêmico de Psicologia (Capsi), após as denúncias o suspeito foi localizado. No entanto, por questões protetivas, o caso foi encaminhado à equipe responsável pela segurança da Uerj. O Capsi divulgou um informe urgente alertando à comunidade acadêmica sobre os episódios, oferecendo apoio às possíveis vítimas e compartilhando o canal da Ouvidoria da Uerj, que recebe denúncias por meio da plataforma Fala.BR, vinculada ao sistema Gov.br. Já o IP-Uerj não se manifestou oficialmente sobre os casos até o momento.
A FCS se posicionou publicamente contra o assédio por meio de notas divulgadas em seu perfil no Instagram e no site oficial. A unidade também anunciou a criação do Grupo de Trabalho Contra o Assédio e a Discriminação (GTCAD/FCS), que terá como objetivo discutir, planejar e implementar ações de instrução, educação e comunicação voltadas à prevenção e ao enfrentamento dessas práticas dentro da instituição. O grupo será aberto à participação de toda a comunidade acadêmica e as inscrições estarão disponíveis até o dia 6/6, pelo preenchimento do formulário.
A recorrência dos casos foi identificada no informe do Capsi, mas ganhou força a partir da mobilização de alunas em um grupo de Whatsapp. No espaço, estudantes compartilharam relatos e trocaram informações sobre os episódios. O grupo, parte de uma rede interna formada por diferentes coletivos da FCS, teve papel fundamental na articulação das denúncias, reforçando a importância de espaços exclusivos para mulheres — tanto como forma de acolhimento quanto de alerta e prevenção. Estudantes destacaram que nem todos os cursos da universidade contam com iniciativas semelhantes, o que aponta uma oportunidade para que centros acadêmicos proponham ações de apoio e intervenção voltadas à proteção e ao bem-estar da comunidade discente.
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